HIV/Aids: expectativa de vida de soropositivos se aproxima da dos não infectados

Há cerca de três décadas, eram registrados nos Estados Unidos pelo Centro de Controle de Doenças (CDC, na sigla em inglês) os primeiros casos do que futuramente seria chamado de Aids. Inicialmente, ela recebeu uma nomenclatura de Doença dos 5 H, em razão de casos registrados em homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e prostitutas (hookers em inglês). Antes considerada um mistério, a doença atualmente já possui tratamento que garante uma expectativa de vida próximas à de uma pessoa não infectada pelo HIV.

Segundo a diretora do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), Valdiléa Gonçalves Veloso, essa condição foi garantida pelos medicamentos antirretrovirais (ARVs) existentes. “No início da epidemia, a gente media a expectativa de vida dessas pessoas em semanas e meses. Hoje, ela é indefinida. Estudos mais recentes mostram uma proximidade com a expectativa de vida da população em geral”, explicou.

A infectologista listou alguns avanços registrados nos últimos trinta anos no enfrentamento à doença, como o isolamento do HIV em laboratório, a disponibilização do teste-diagnóstico e de exames de carga viral e de contagem de linfócitos, que monitoram a infecção e a multiplicação do vírus no organismo. Valdiléa considera ainda a implantação da terapia com os ARVs como um dos um dos marcos no cenário mundial, segundo ela, foi a implantação da terapia antirretroviral, também conhecida como coquetel antiaids. Com a introdução da terapia medicamentosa, a doença passou a ser considerada como um problema crônico grave e não mais como uma sentença de morte. Além de uma expectativa de vida maior, a qualidade de vida dos soropositivos também aumentou.

– Hoje temos medicamentos que dão um conforto maior ao paciente. Os comprimidos, a frequência e a exigência de restrição alimentar diminuíram e têm uma toxidade menor do que no início. São menos efeitos colaterais, o que faz com que o paciente tolere melhor a terapia, ressaltou a pesquisadora do Ipec.

Outra vantagem é que pessoas que convivem com o vírus da Aids já podem ser submetidas a várias rodadas de tratamento. Há alguns anos, quando os primeiros medicamentos fracassavam, a expectativa de que uma segunda tentativa funcionasse era pequena. Atualmente, há uma lista de medicamentos que podem ser prescritos em casos de resistência ao HIV.

Valdiléa lembrou que mesmo diante do enfrentamento, a epidemia de Aids já acometeu mais de 60 milhões de pessoas em todo o mundo, além de ter provocado a morte de cerca de 25 milhões. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que entre 30 e 35 milhões de pessoas estão infectadas.

– A infecção continua sendo transmitida, mas tivemos resultados de pesquisas muito animadores em relação à prevenção e que demonstram que o uso dos antirretrovirais pode contribuir para a prevenção.

A cientista se refere ao estudo com casais sorodiscordantes que indica que o risco de transmissão cai em 96% quando o parceiro soropositivo se submete a um tratamento eficaz. Para a infectologista, o resultado do estudo atesta que, se a população atualmente infectada pelo HIV tiver acesso ao tratamento, isso poderá representar um impacto considerável no controle da epidemia no futuro.

– A ciência vai continuar avançando. Vamos gerar cada vez mais conhecimentos que vão permitir que as pessoas infectadas vivam mais e melhor. Mas tudo o que a ciência gera, no final, depende de uma outra parte, de fatores que não estão associados, de decisões políticas de grandes líderes mundiais que nem sempre optam por tornar o acesso mais igualitário.

Fonte: Cecovisa