II Abraço à Lagoa do Porangabussu alerta para crise climática em Fortaleza
Núcleo do Cebes-CE coordenou roda de conversa sobre educação ambiental: “Falar de meio ambiente é falar de justiça social”
O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) participou, neste domingo, 30/6, do II Abraço à Lagoa do Porangabussu, em Fortaleza. O ato alertou para o efeito dos aterramentos e da redução das áreas verdes, que agravam a crise climática na cidade, e cobrou a prometida revitalização da lagoa e seu entorno, que concentra equipamentos públicos e de saúde.
“O decreto 13.286/2014 previa a criação dos Parques Urbanos das Lagoas de Fortaleza, incluindo a Porangabussu”, lembra o vereador Gabriel Aguiar (PSOL), que defende a judicialização para cumprimento do decreto. Em 2018, a prefeitura e o governo do Ceará chegaram a anunciar a recuperação e urbanização da lagoa, no lançamento Distrito de Inovação em Saúde de Porangabussu. Apesar da grande repercussão do evento, com a presença de todos os ex-governadores vivos do Ceará, o espaço segue abandonado.
Lizaldo Maia, servidor da Fiocruz Ceará e integrante do núcleo do Cebes-CE e Vaumik Ribeiro, do Conselho Municipal de Saúde de Fortaleza, coordenaram a roda de conversa sobre educação ambiental, com a professora Margareth Borges, o superintendente do Ibama no Ceará, Deodato Ramalho e o deputado estadual Renato Roseno (PSOL).
Margareth Borges, pesquisadora da Fiocruz Ceará, alertou para a poluição de corpos hídricos. “Rio Jaguaribe está poluído com metais pesados: cobalto, cromo e arsênio. Os mariscos, responsáveis pela filtração das águas fluviais, estão contaminados por esses metais. A literatura aponta três causas dessa contaminação: os dejetos da carcinicultura [criação de camarões em cativeiro]; os agrotóxicos do cultivo extensivo de fruticultura no estado do Ceará; e a exploração imobiliária da orla marítima”, esclareceu.
Para o superintendente do Ibama no Ceará, Deodato Ramalho, “fiscalizar também é uma forma de educar”. “O Ibama teve um período recente da mordaça na instituição”, lamentou Ramalho. “Falar de lagoas em Fortaleza é urgente e necessário”.
Fortaleza perdeu 2/3 dos corpos hídricos – “No processo de educação ambiental, ouvir os relatos é fundamental. Em espaços muito pequenos de tempo, há uma profunda alteração da natureza”, avalia o deputado estadual Renato Roseno (PSOL). “Todos nós lembramos de uma Fortaleza mais amena, mais verde”.
“Fortaleza é uma cidade de lagoas. Ou já foi: hoje tem 103 corpos hídricos, mas já teve muito mais, já teve o triplo. Quando a gente observa os mapas de Fortaleza no século XIX, era uma cidade ambientalmente mais agradável, com muito mais lagoas, muito mais verde, com temperatura mais amena. O processo de urbanização de Fortaleza foi muito agressivo, em várias dimensões. Foi segregador, expulsando as populações mais pobres para a periferia. Foi também um processo de supressão de áreas verdes e aterramento de corpos hídricos”, afirma.
Para o Roseno, “o capitalismo é contra o meio ambiente. Falar de meio ambiente é falar de justiça social. Desenvolver valores, habilidades e atitudes para educação ambiental. A educação ambiental não formal é fundamental para adequar valores na proteção ambiental”.
A programação do II Abraço à Lagoa do Porangabussu incluiu, ainda, capoeira, mutirão de limpeza comunitária, teatro de bonecos, plantação e distribuição de mudas de árvores e brincadeiras para as crianças. Participaram da organização do evento a Associação dos Moradores do Rodolfo Teófilo; o Centro Brasileiro de Estudos em Saúde (Cebes–Núcleo Ceará); a Pastoral da Criança Santa Paulina, a Pastoral Social da Paróquia São Raimundo Nonato de Fortaleza e o Sindiodonto-Ceará
Reportagem Clara Fagundes/Cebes
Veja fotos do II Abraço à Lagoa do Porangabussu: