Homenagem de Jairnilson Paim a Sebastião Loureiro: ‘temos de elaborar essa nossa tristeza, renovando as esperança que ele sempre soube cultivar’

Perdi meu grande amigo de mais de meio século! E a Saúde Coletiva latino-americana e a Reforma Sanitária Brasileira perderam um grande companheiro!

Sebastião exerceu uma liderança firme e suave em todas as entidades em que foi Presidente: Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco); Associação Latino-Americana de Medicina Social e Saúde Coletiva (Alames); Associação Internacional de Política de Saúde (IAHP); e a então Associação dos Profissionais de Saúde Pública da Bahia. Organizamos juntos o primeiro debate público para a implantação do Núcleo Baiano do Cebes em 1976.

Um aquariano visionário, Sebastião sempre esteve à frente do seu tempo: inovador, criativo e propositivo. Construiu instituições e programas, como o Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da UFBA, o Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, o Programa de Estudos Epidemiológicos e Sociais (PEES) e o Programa de Doutorado em Saúde Pública. Sempre muito querido por seus colegas de vários países da América Latina e do Caribe, bem com da Europa e dos Estados Unidos.

Tão importante como a figura pública de Sebastião Loureiro era aquela figura humana simpática e afetuosa que gostava de receber amigos, amava a vida como poucos e com um otimismo incorrigível. Nasceu para viver num “tempo da delicadeza“, como afirmei na saudação quando recebeu o título de Professor Emérito da UFBA.

Foi quem primeiro convocou o ISC para elaborar proposições e estratégias quando a pandemia da Covid-19 ainda estava na China. E durante o confinamento sofreu como tantos por não poder encontrar amigos para celebrar a vida. Nossas conversas nos últimos tempos passavam pela preocupação com os destinos do Brasil, compartilhando reflexões sobre a brutalidade e o ódio que atingiram a sociedade brasileira.

Estou muito triste com a notícia do falecimento de Tião nesta noite de domingo! Mas temos de elaborar essa nossa tristeza, renovando as esperança que ele sempre soube cultivar. Continuaremos defendendo o Direito Universal à Saúde e a Democracia, tal como na 8a. Conferência Nacional de Saúde, no primeiro Abrascão e na militância durante a Constituinte em 1987 e 1988 que marcaram, definitivamente, a sua história.

Um abraço para os familiares de Sebastião e em todos os amigos dos vários coletivos que ele criou e renovou.
Jairnilson Silva Paim.