Jovens ainda morrem mais
Correio Braziliense – 21/03/2012
Apesar do total de fatalidades no ano passado ter se mantido praticamente estável, segundo dados do Detran, pessoas na faixa etária de 20 a 29 anos continuam a se envolver com frequência em tragédias no asfaltoNotíciaGráfico
Na busca pela paz no trânsito, o Distrito Federal conseguiu frear a variação do número de vítimas, até então imprevisível na última década. Depois de anos de inconstantes quedas e crescimentos no índice de mortes, no ano passado, as vias do DF registraram 465 vítimas, quatro a mais que em 2010 (leia arte). A estabilidade também se confirma na quantidade de fatalidades para cada 100 mil habitantes: em 2011, foram 17,7, quando, no ano anterior, chegou a 17,9. Os mais jovens, no entanto, continuam como os principais alvos da violência no asfalto — houve 248 vítimas de 20 a 39 anos, o maior índice desde 2003.
Para o diretor-geral do Departamento de Trânsito (Detran), José Alves Bezerra, a contenção do número de mortes no ano passado representa o início de uma tendência que deve se converter em queda a partir do próximo ano. “Houve uma tentativa de construção de uma política voltada para o aumento da fiscalização nas ruas. Também conseguimos mais que triplicar o número de pessoas punidas com apreensão de carteiras e reciclagem, diminuindo a sensação de impunidade”, avaliou.
O Detran espera alcançar a meta da Organização Mundial da Saúde (OMS) que apontou a necessidade de diminuir em pelo menos 50% o número de fatalidades até 2020. A iniciativa faz parte da Década Mundial de Ações pela Segurança no Trânsito, que estipula uma série de propósitos para a redução das vítimas nas estradas. O primeiro deles é reduzir o índice de mortos por 10 mil veículos, de 3,5 para 3.
O professor de epidemiologia do acidente de trânsito da Universidade de Brasília (UnB) David Duarte Lima avalia, no entanto, que essas metas estão longe de um quadro constante. “Estar relativamente estável é andar para trás. Fica mais difícil alcançar a redução preconizada pela OMS. Aparentemente, 400 mortos é pouco. Mas é mais que em vários países como Bélgica, Holanda, Noruega e Suécia. Estamos falando em localidades com 10, 20 milhões de habitantes.”
Alguns países europeus e asiáticos têm índice de 5 mortos por 100 mil habitantes, menos de um terço do índice brasiliense, de 17,7. “A estatística só tem sentido se nós aproveitarmos esses números para que possamos compreender o fenômeno e tomar medidas de prevenção, para que seja possível diminuir a mortalidade”, explicou o especialista.
Imprudência
O grande desafio na busca pela redução de vítimas no trânsito esbarra no constante aumento das mortes de jovens. Os campeões em acidentes fatais no ano passado foram mais uma vez da faixa etária de 20 a 29 anos, com 131 mortes. O número é seguido de perto pelo total de vítimas de 30 a 39 anos: 117 em 2010, o mais alto desde 2004. Entre essas estatísticas está a servidora pública Marina Monteiro Ravazzi, 25 anos. Ela morreu em novembro do ano passado ao perder o controle do veículo no Eixão e bater de frente com um Fox.
Em dezembro do mesmo ano, Laís Cristina Pimenta, 21 anos, perdeu a vida em um acidente na Ponte do Braguetto. Ela seguia sozinha em um Escort no sentido Sobradinho—Plano Piloto e bateu em um Hyundai Azera, conduzido por um jovem de 22. Ela morreu na hora, ao ser prensada entre o banco e o volante do carro. O motorista do outro veículo negou-se a fazer o teste do bafômetro.
Para o diretor-geral do Detran, muitas tragédias que envolvem jovens ocorrem por conta de algum tipo de imprudência. “Há esse perfil do condutor que morre por conta de uma necessidade de autoafirmação, que consome bebida ou desrespeita a velocidade. Alguns desses garotos foram atirados para fora do carro, pois não usavam o cinto de segurança”, afirmou. O Detran promete intensificar as ações voltadas para esse público, como o aumento no número de blitzes em horários e em pontos de retorno de festas.
Operação Funil
Lançada em 22 de dezembro do ano passado pela Secretaria de Segurança Pública, a Operação Funil contabilizou uma redução de 40% no número de acidentes fatais no DF. Mais de 5,4 mil veículos foram abordados em blitzes educativas, que alertaram os motoristas sobre os riscos de acidentes. Houve 10 ações, com 60 profissionais cada. A operação reúne Detran, polícias Civil e Militar, Corpo de Bombeiros, DER e Polícia Rodoviária Federal.