Longa fila para enfrentar o vício

Correio Braziliense – 31/05/2012

Para muitos fumantes brasilienses, o Dia Mundial sem Tabaco, hoje, será mais um dia de espera. A fila para participar do Programa de Controle do Tabagismo, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), cujo objetivo é oferecer tratamento gratuito para quem pretende parar de fumar, conta com mais de mil pessoas. De acordo com o coordenador do programa, o pneumologista Celso Antônio Rodrigues, o período para o inscrito ser chamado varia entre dois e três meses.

Brasília é a cidade com o maior número de centros de referência para o tratamento do tabagismo: ao todo, são 62, entre postos de saúde e hospitais, como o Regional de Ceilândia (HRC), o Regional da Asa Norte (Hran) e o Regional de Planaltina (HRP). A capital de São Paulo, por exemplo, dispõe de apenas 11 centros, segundo levantamento do Ministério da Saúde.

Mesmo com uma oferta maior de tratamento, muitos brasilienses ficam na fila de espera por um período superior a 90 dias. É o caso da auxiliar de limpeza urbana Cristiane Lima, 31 anos, que aguarda há mais de quatro meses para participar do grupo de combate ao tabagismo na Asa Sul. Ela fuma uma média de 20 cigarros por dia. “A única coisa que os funcionários do posto de saúde informam é que a demanda é muito grande e só é possível participar quando dão início a uma nova turma”, relata.

Cristiane conta que, enquanto aguarda ser chamada, tentou parar de fumar por conta própria, mas não conseguiu. “Diminuí a quantidade de cigarros que fumo diariamente, no entanto, parar de vez é mais complicado. O fumante, para abandonar o vício, precisa de apoio médico e psicológico”, diz.

A dona de casa Maria Madalena Pereira, 53 anos, lamenta ter que esperar por tanto tempo. Desde fevereiro, ela está na lista de espera do posto de saúde da 508 Sul. “Já tentei parar de fumar, mas não consegui. É complicado abandonar um hábito que já dura 20 anos”, afirma. Maria diz que a quantidade de cigarros consumidos varia de acordo com o estado emocional. “Geralmente, fumo oito cigarros em um dia, mas, quando estou nervosa, chego a 12 ou até mesmo a um maço, que tem 20. O resultado disso é tosse seca, pigarro e falta de ar”, revela.

Falta de profissionais

Para Cristiane, o tratamento na rede pública de saúde precisa de reformulação. “Não há divulgação do programa. Muitos fumantes nem sabem que existe o tratamento. As informações repassadas pela central de atendimento do GDF são desencontradas. Em muitas regiões, os centros de referência deixaram de atender por falta de profissionais”, denuncia.

O coordenador do programa de Controle do Tabagismo no DF informa que existem 180 profissionais de saúde que atuam no tratamento dos fumantes. “A equipe é multidisciplinar e obrigatoriamente formada por um médico e um assistente social ou psicológo. No mês passado, capacitamos 118 pessoas para trabalhar no programa, mas a demanda de outras áreas da saúde fez com que alguns profissionais adiassem a atuação na coordenação”, explica Celso Antônio Rodrigues.

Cada grupo de combate ao tabagismo é formado por 15 ou 20 fumantes, dependendo do espaço do local. As reuniões, no primeiro mês de tratamento, ocorrem semanalmente e duram em média uma hora. No segundo mês, o intervalo entre os encontros passa a ser de 15 em 15 dias. Nos meses subsequentes, o grupo se reúne uma vez a cada 30 dias. “Nos casos em que o fumante do grupo apresenta um quadro cardiorrespiratório grave, ele é encaminhado para acompanhamento com pneumologista. Os demais participam das conversas e palestras do grupo e fazem uso de adesivos para diminuir aos poucos a dependência de nicotina”, revela Rodrigues.