Lúcia Souto defende o impeachment de Bolsonaro para que o Brasil faça o enfrentamento adequado da pandemia de covid-19
A presidenta do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) defendeu na manhã dessa quinta-feira (18) no jornal Brasil Atual o impeachment de Bolsonaro para que o Brasil possa, finalmente, fazer o enfrentamento adequado da pandemia de covid-19. Ela apontou o exemplo dos Estados Unidos que, com a mudança de governo, viu os índices de vacinação subirem e o número de casos de doentes pelo novo coronavírus decair. Para a médica sanitarista, não adianta mudar o ministro da Saúde se a Pasta continuar seguindo a postura negacionista do presidente da república.
Como aponta essa matéria da BBC, na última segunda-feira o Brasil quebrou um novo recorde: “o país liderou o número acumulado de casos e mortes no mundo nos sete dias anteriores, ultrapassando os Estados Unidos, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde). Foram 494.153 novos casos da doença causada pelo novo coronavírus e 12.335 mortes no período no Brasil, contra 461.190 e 9.381, respectivamente, nos Estados Unidos. Na data, o Brasil também superou os EUA tanto em número de casos quanto em mortes. Foram 85.663 casos e 2.216 mortes no Brasil contra 62.840 e 1.388 nos EUA, respectivamente“.
Divulgado nessa terça-feira, Boletim extraordinário do Observatório Covid-19, da Fiocruz, aponta o “maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil“. “No momento atual são 24 estados e o Distrito Federal, entre as 27 unidades federativas, com taxas iguais ou superiores a 80%, sendo 15 com taxas iguais ou superiores a 90%. Em relação às capitais, 25 das 27 estão com taxas de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos iguais ou superiores a 80%, sendo 19 delas superiores a 90%. A situação é absolutamente crítica“.
Lúcia aponta o que aconteceu nos EUA: “mudou o presidente da República e mudou o cenário da doença“. Já no Brasil, o presidente “sabota (as medidas de enfrentamento da pandemia) e faz com que a gente tenha esse número calamitoso de mortes, o colapso do Sistema de Saúde e o esgotamento de profissionais de saúde“. Ela gostaria de ver o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se pautando pelos “dados da calamidade sanitária que o Brasil está vivendo” e não pelo presidente da República.
A pesquisadora da Fiocruz assinala a importância do apoio da sociedade às ações de governadores, que se articularam em um Pacto Nacional pela Saúde e pela Vida para coordenar medidas contra a pandemia. Na última sexta-feira, representantes da Frente pela Vida se reuniram virtualmente com Wellington Dias, governador do Piauí e coordenador do Fórum Nacional de Governadores para demonstrar o apoio e repercutir as ações desses governantes contra a doença.
Ela também destacou denúncia à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) e à Organização das Nações Unidas (ONU) da situação de calamidade sanitária no Brasil feita pela Frente pela Vida e do Conselho Nacional de Saúde (CNS) no início desse mês. “O Brasil se tornou o epicentro da pandemia e o governo precisa ser responsabilizado. O que se faz ou deixa de fazer aqui gera consequências de vida ou de morte para o nosso povo e para a população da América Latina e do mundo”, afirmou Fernando Pigatto, presidente do CNS, na ocasião.
Ao jornal Brasil Atual, Lúcia cobrou do Ministério da Saúde o repasse da verba de financiamento para subsidiar os leitos para tratamento de pacientes que sofrem com o novo coronavírus. “Desde Janeiro o governo federal não está repassando esses recursos para Estados e Municípios. Como vão conseguir assumir riscos se não há repasse constitucional devido?“, destacou. De acordo com informações de Wellington Dias repassadas a ela, os repasses de Janeiro só chegarão aos Estados em Abril.
Isolamento, auxílio emergencial e vacinação
A presidenta do Cebes destacou os esforços do Instituto Butantan e da Fiocruz – além das ações de governadores – para aumentar a taxa de vacinação no Brasil. Nessa quarta-feira (17), a Fiocruz entregou 500 mil doses à União e hoje ela deve entregar mais 500 mil unidades. A previsão é que a Fundação entregue 3,8 milhões de vacinas até o final de Março. Segundo ela, serão cerca de 6 milhões de doses por semana até Julho, totalizando 1 milhão e 400 mil unidades no período. No segundo semestre, o Brasil passará a produzir em território nacional o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), o que deverá dar um novo ritmo à vacinação no País. “Até lá, o Brasil tem que adotar ações de isolamento social. Caso contrário, será o colapso do País“, explica.
As medidas de isolamento social tem que vir acompanhadas ações de apoio econômicos, como o Auxílio Emergencial – cujo valor, de acordo com ela, deveria se manter em R$ 600 – e apoio para manutenção de empresas e empregos. “Pequenas e médias empresas precisam do apoio do governo“.
Lúcia lamenta o cenário atual de enfrentamento à pandemia em território brasileiro. “Temos um País que se estruturou durante anos e que era muito consistente, acima da média mundial, em campanhas de vacinação. Poderia estar rendendo muito mais em beneficio da população. A articulação entre governos Federal, Estaduais e Municipais, com a participação da sociedade (na forma dos Conselhos de Saúde) é algo que já estava feito. Não era preciso inventar nada“. “É uma tristeza saber do potencial que temos e que está sendo sabotado no enfrentamento à pandemia“.
Assista a entrevista: