Luís Carlos Bolzan, sobre o ‘vacinagate’: Compra da Covaxin seria “coisa” apenas do líder do governo, Ricardo Barros, ou um esquema de muitos?
Por Luís Carlos Bolzan, psicólogo e ex-diretor do Denasus, especial para o Viomundo
A denúncia do deputado Luiz Miranda (DEM/DF) em depoimento na CPI da Pandemia na última sexta-feira, 25/06, é um divisor de águas no curso que deverá seguir o processo de investigação.
Ele afirmou que, ao ser informado sobre irregularidades no processo de compra da vacina Covaxin, o presidente Bolsonaro disse a ele e ao irmão, Luiz Ricardo Miranda, que era coisa do deputado Ricardo Barros (PP/PR).
Além disso, Luiz Miranda, em sua fala na CPI, perguntou: “Que presidente é este que tem medo de quem desvia dinheiro público das pessoas morrendo na porra desse Covid?”
Merecem muita atenção as palavras do deputado denunciante.
Ricardo Barros é deputado federal e líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Foi ministro da Saúde do governo Temer (MDB).
Barros foi o ministro da saúde que disse que “o SUS não cabe no orçamento da União”, enquanto fazia defesa de “planos de saúde populares” e atacava as políticas de saúde mental e a reforma psiquiátrica brasileira.
Durante sua gestão no Ministério da Saúde, processo de compra de medicamentos com a empresa Global, do mesmo proprietário da Precisa que vendeu Covaxin, resultou em processo no qual Barros é investigado.
Motivo: Ministério da Saúde pagou R$ 20 milhões pelos medicamentos que nunca foram entregues.
Ricardo Barros foi também denunciado na Lava Jato por supostamente ter recebido propinas.
O líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados tem vida ativa na direção do Partido Progressista (PP), do qual já foi vice-presidente.
Atualmente, é o tesoureiro-geral da agremiação direitista, hoje presidida pelo senador Ciro Nogueira (PI).
É o mesmo PP que tem entre seus expoentes o senador Luiz Carlos Heinze (RS), integrante da CPI da Pandemia, e o deputado Arthur Lyra (AL), eleito presidente da Câmara Federal com ferrenho apoio do governo federal.
Talvez daí resultasse o medo do deputado Luiz Miranda em declinar o nome de Ricardo Barros, líder do governo na Câmara, e do mesmo partido do presidente da Casa.
Talvez por este motivo Luiz Miranda tenha informado, por whatsaap, Arthur Lyra, um dos principais nomes do PP nacional, de que tinha elementos para denunciar irregularidades na compra da Covaxin.
Diante desse quadro são necessárias algumas perguntas:
- A compra superfaturada da Covaxin seria “coisa” apenas do deputado Ricardo Barros?
- Ou seria “coisa” de interesse das lideranças do PP?
- Os U$ 45 milhões para a Madison Biotech, offshore em Cingapura e cujo nome não constava no contrato, seriam propina para uma pessoa em específico? Segundo o relato do servidor público Luiz Ricardo, irmão do deputado Luiz Miranda, o pagamento seria adiantado e sob pressão.
- Ou os U$ 45 milhões se destinariam a lideranças do PP?
- A suposta propina seria usada pelo PP em suas campanhas ou se destinaria para fins exclusivos de Ricardo Barros, denunciado pelo deputado Luiz Miranda?
- O receio de Miranda em denunciar Barros seria por ter que enfrentar o poder do PP na Câmara, ser perseguido e submetido a um possível processo de cassação movido por parlamentares da base do governo Bolsonaro?
- Diante das irregularidades denunciadas pelos irmãos Miranda no contrato da Covaxin, temos desde a prevaricação do presidente Bolsonaro ao envolvimento direto de Ricardo Barros e talvez do próprio presidente da Câmara, Arthur Lyra?
Na sessão da CPI em que os irmãos Miranda fizeram a denúncia, chamou muita atenção o silêncio quase absoluto dos senadores Ciro Nogueira, presidente do PP, e Luiz Carlos Heinze, sempre tão ativo na defesa do governo na CPI.
- Seriam Nogueira e Heinze sabedores do esquema denunciado?
Fato é que o presidente Bolsonaro estaria, no mínimo, envolvido em prevaricação, por ter sido avisado sobre ilegalidades e nada ter feito.
Mas, Bolsonaro poderia ter ainda outro tipo de envolvimento.
Não se pode esquecer que o presidente brasileiro intercedeu junto ao primeiro ministro indiano Narendra Modi.
Mais do que isto. Segundo a revista Veja, o senador Flávio Bolsonaro teria acompanhado dono da Precisa em agenda com presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, demonstrando muita proximidade com a empresa envolvida em denúncias de irregularidades.
O que nos leva a outras perguntas:
- O possível esquema de Barros, além de talvez propinas para o PP, também teria participação de Bolsonaro e de seu filho Flávio?
- Seria esse o motivo pelo qual Arthur Lyra resiste tanto em abrir processo de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro?
- O presidente da Câmara também estaria envolvido no esquema denunciado pelos irmãos Miranda?
Só nos resta aguardar o comportamento do deputado Arthur Lyra daqui em diante.
- Continuará blindando Bolsonaro pelos crimes de responsabilidade cometidos? Ou preferirá se salvar e ao seu partido, rifando Bolsonaro?
A pressão sobre Lyra aumentará muito nos próximos dias, e talvez, o pragmatismo fale mais alto.
Crimes não faltam. Negacionismo empurrando pessoas para comportamento de alto risco sanitário, charlatanismo, boicote ao processo de vacinação e às medidas não farmacológicas de proteção contra covid-19, protelação do auxílio emergencial.
E, agora, possível esquema bilionário de corrupção na compra da vacina Covaxin.
Resultado da farra fascista até agora: mais de 511 mil mortos oficiais e sinalização de que essa tragédia está longe do fim.
Genocídio anunciado desde o início da pandemia diante do comportamento negacionista do presidente Bolsonaro e de seu governo.
A CPI terá muito a apurar sobre denúncia feita pelos irmãos Miranda, para descobrirmos o real tamanho da cova em que se transformou o Brasil.
O Senado — que votou impeachment golpista de Dilma e abriu espaço para o fascismo — deve isso ao País.
Vacina no braço de todas e todos e impeachment já!