Mais R$ 6,2 bi para a Saúde
Correio Braziliense – 17/07/2012
Governo quer construir 900 UPAs até 2014 e tenta desafogar o SUS. Especialista alerta que o custo de manutenção é elevado
A presidente Dilma Rousseff anunciou ontem um pacote de R$ 6,2 bilhões para a saúde, que inclui a meta de construir, até 2014, 900 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), ao custo de R$ 2,7 bilhões. Essas UPAs se somarão às 200 que já estão em funcionamento e atendem mais de 2 milhões de pessoas por mês. Para a presidente, essas unidades de atendimento rápido têm ajudado a desafogar o Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, o custo é salgado: segundo cálculos do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes), o governo terá que desembolsar anualmente R$ 10,8 bilhões para manter essas novas UPAs em funcionamento.
O diretor do Cebes, José Noronha, ressalta que, para melhorar o atendimento à saúde, não basta aumentar o ritmo de inaugurações: “Para exercer bem sua função, uma UPA custa quatro vezes o que foi gasto para sua construção. Difícil não é colocá-la em pé, mas mantê-la. É colocar profissionais para atender o público”. Só neste mês, o governo inaugurou oito UPAs, uma delas em São Bernardo do Campo (SP), que contou com a presença da presidente Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para o segundo semestre, o plano é habilitar outras 766.
O pacote de investimentos para a saúde anunciado ontem também inclui R$ 3,5 bilhões para a construção e a implantação de 4 mil Unidades Básicas de Saúde (UBS) e a reforma e a ampliação de outras 21 mil unidades.
As UPAs são unidades de atendimento rápido, que funcionam 24 horas, todos os dias da semana, capazes de resolver problemas de até média complexidade. De acordo com dados do Ministério da Saúde, apenas 3% dos pacientes são encaminhados para os hospitais. Durante o anúncio da meta, no programa de rádio Café com a presidenta, Dilma explicou que uma pessoa que procura a UPA com uma dor de cabeça forte e descobre que está com pressão alta, após ter seu sofrimento aliviado naquele momento, será encaminhada para uma UBS. “Para funcionar bem, um serviço precisa completar o outro”, afirmou.
Edgar Hamann, professor de epidemiologia e especialista em saúde pública da Universidade de Brasília (UnB), lembra que, além de investir em UPAs e UBS, é preciso melhorar a qualidade dos hospitais públicos. “É preciso estar atento para que não seja criada uma rede paralela ao restante do sistema. Não basta apenas colocar médicos em uma UPA, é preciso de uma retaguarda capaz de fazer diagnósticos elaborados. A UPA pode funcionar como triagem, mas não seria mais interessante equipar melhor e garantir acesso aos hospitais já existentes?, questiona.”