Marcha pela Humanização do Parto reúne mulheres na Praia de Ipanema
G1 – 5/8/2012
Resoluções do Cremerj proibia médico realizar parto domiciliar. ‘No hospital a gente é tratada como um número’, diz uma das organizadoras.
A Marcha pelo Parto Humanizado reuniu gestantes, profissionais da saúde e militantes da causa no Posto 9 da Praia de Ipanema, na Zona Sul do Rio de Janeiro, na tarde deste domingo (5). A manifestação alertou para a necessidade da humanização do parto e levantou a questão da autonomia que mulher deveria ter para fazer a escolha de como deseja ter o seu filho.
Na segunda-feira (30), uma Ação Civil Pública foi deferida em favor do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-RJ), contra as resoluções do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), que proibia médicos de atuarem nas equipes de parto domiciliar ou de integrar quadros hospitalares de suporte e sobreaviso.
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Ellen Paes, uma das organizadoras da marcha conta que teve sua filha no hospital e que o seu parto foi uma vedaria desnecessária enquanto ela poderia ter feito um parto natural. “No hospital a gente é tratada como um número. Os médicos não nos dão autonomia na escolha da melhor posição. Fizeram piada da minha dor.”
Heloísa Lessa é parteira e já fez 402 partos em casa. Destes, 33 foram encaminhados ao hospital. Para ela, o parto humanizado permite maior conforto à mulher. “Uma massagem feita por uma doula relaxa a mulher e diminui as dores”, explicou.
Nem todos os presentes na marcha, no entanto, foram apoiar a causa. Uma advogada, identificada como Maria do Carmo Romano, foi vaiada pelas manifestantes ao aparecer gritando “é homicídio”. Segundo ela, a manifestação estimula o risco e facilita o aborto.
Jorge Kuhn é médico e professor da Unifesp e veio de São Paulo para apoiar a manifestação. Ele já acompanhou 100 partos domiciliares feitos por parteiras, já que o médico neste caso presta um serviço auxiliar, e destes, apenas 12 gestantes foram encaminhadas ao hospital. Segundo ele, nove destas pediram para ir para o hospital porque sentiam dor e preferiam fazer o parto com anesteria. Apenas três foram levadas para o hospital porque questões de risco avaliadas por ele.
“Para que o parto seja em casa, é necessário que a mulher e o bebê estejam em condições normais e que haja um hospital há 20 minutos de sua residência. É preciso que a mulher tenha o desejo de ter o filho desta forma e que assuma os riscos. Mas o parto domiliciar costuma ser muito mais satisfatório para as mulheres do que o parto hospitalar. Elas se sentem com mais controle do processo e não precisam tomar remédios que aceleram as contrações”, explicou Jorge.
Resolução
Na segunda-feira (30), a 2ª Vara Federal do Rio de Janeiro suspendeu a resolução do Cremerj, que proibia médicos de atuarem nas equipes de parto domiciliar ou de integrar quadros hospitalares de suporte e sobreaviso. O Cremerj também havia vetado doulas e parteiras de acompanhar as grávidas antes, durante e após o parto hospitalar.
De acordo com a decisão da Justiça do Rio, as resoluções ofendem a diversos dispositivos constitucionais e legais “que garantem à mulher o direito ao parto domiciliar, assim como ao acompanhamento, em ambiente hospitalar, de pessoa livre de sua escolha”.