Margareth Dalcolmo desabafa: “O que pode justificar nesse momento que o Brasil não tenha as vacinas para sua população?”
Nessa terça-feira (19), durante a entrega do Prêmio São Sebastião da Cultura, coordenada pelo arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani, Margareth Dalcolmo, cientista e pesquisadora da Fiocruz, ficou sabendo sobre o imbróglio para entrega dos insumos vacinas ao Brasil. Veja abaixo a transcrição de parte do desabafo:
“Nós acabamos de receber a notícia que as vacinas não virão da China e que não virão da Índia.
(…)
O que pode justificar nesse momento que o Brasil não tenha as vacinas para sua população? Isso é absolutamente injustificável. Não há nada, nenhuma explicação que possa justificar isso. Acabamos de saber, que depois de termos feito de acordo de cooperação (para produção da vacina AstraZeneca), estabelecido ponto a ponto desde agosto do ano passado, que uma instituição pública como a Fundação Oswaldo Cruz tenha a sua linha de produção absolutamente pronta, toda IFA (insumo farmacêutico) necessário pronta e paga para chegar ao Brasil e que as gestões diplomáticas tenham fracassado até esse ponto.
(…)
Nós que acompanhamos pacientes desde o primeiro momento, quantas coisas nós vivemos, quantos testamentos vimos sendo trocados, quantos casamentos ajudamos a serem feitos, quantas pessoas ajudamos a morrer, quantas notícias tristes demos às famílias.
Quando aquela porta se fecha e nunca mais aquela pessoa verá ninguém a não ser os nossos olhos através de olhos e máscaras.
Essa vivência não nos tornou mais poderosos ou sábios, mas humildes e atentos um com o outro.
E digo que não há nada que justifique, a não ser a desídia absoluta, a incompetência diplomática do Brasil que não permita que cada um dos senhores aqui presentes, suas famílias e aqueles que vocês amam, estejam amanhã ou nos próximos meses, de acordo com o cronograma elaborado, recebendo a única solução que há para uma doença como a covid-19.
(…)
Não nos calemos diante disso.
(…)
Gostaria de estar aqui, dizendo aos senhores “nosso cronograma será cumprido e todos nós, cada um, de acordo com sua faixa etária poderá receber a solução para o seu problema”, mas acabo de saber que isso não poderá ser cumprido.
(…)
Conclamo a todos: consciência cívica, reivindicação daquilo que é nosso direito e a única solução. Muito obrigada, Cardeal (Dom Orani).
Margareth Dalcolmo
Veja abaixo o vídeo com o desabafo de Margareth:
Comentário de Ana Maria Costa, diretora de Comunicação do Cebes, sobre esse início da vacinação contra a covid-19 no Brasil:
Lamentavelmente, até o momento, temos apenas a certeza de que não haverá nenhuma campanha de vacinação no Brasil. Essas 6 milhões ou até mesmo 10 milhões de doses de vacinas (com as 4 milhões de doses envasados no Butantã) é tudo que existe concretamente no Brasil. Isso é NADA diante da necessidade real para garantir duas doses com 90% de cobertura vacinal.
O Brasil não tomou providências e não há nenhuma estratégia promissora à vista. De resto, lamentavelmente o que domina no país é “deixar o povo morrer à míngua e no desamparo”. É a necropolítica.
Nem o Butantan nem a Fiocruz têm insumos básicos para produzir vacinas. A política de relações internacionais do governo isolou o Brasil e inviabiliza a chegada desses insumos.
Quando a encenação da distribuição destes lotes de vacinas acabar, acabará a farsa e aumentará a revolta. Para que seja possível a vacinação de nosso povo tem que interromper o genocida. Não tem outro caminho além do IMPEACHMENT DE BOLSONARO.
Pela vida e saúde do povo do Brasil!
Ana Maria Costa