Medicamentos ‘somem’ e multinacional perde receita
Valor Econômico – 31/05/2012
Enquanto a maioria das farmacêuticas com atuação no Brasil tem registrado crescimento acima de dois dígitos nos últimos anos, o desempenho financeiro da Bristol-Myers Squibb (BMS) no país tem derrapado ano a ano. Fontes ouvidas pelo Valor atribuem o baixo desempenho das vendas do grupo ao fechamento da fábrica da multinacional no fim de 2010 no país e à decisão de deixar de lado seus medicamentos tradicionais.
Fechamento de fábricas da BMS não ocorreu só no Brasil. A multinacional encerrou as atividades de cerca de 20 unidades espalhadas mundo, sobretudo em países emergentes, como parte de um reposicionamento estratégico. A BMS decidiu concentrar suas apostas em medicamentos biotecnológicos. No Brasil, o atual presidente da companhia, Stephen Merrick, foi destacado pela matriz americana para conduzir esse processo no país. O Valor apurou que o executivo deverá ser transferido para outro país este ano. A empresa nega.
Desde que decidiu fechar sua fábrica no Brasil, a BMS começou a firmar acordos comerciais com outros laboratórios instalados no país para a venda de importantes medicamentos. A múlti também tem se desfeito de algumas marcas. Com isso, o desempenho da receita da farmacêutica no país começou a ficar comprometido, segundo fontes ouvidas pelo Valor.
No ano passado, a BMS firmou acordo comercial com a suíça Novartis para a venda de seus produtos do segmento MIP (medicamento isento de prescrição), como o Naldecon, Luftal e Dermodex. Esses produtos são importados da fábrica da Bristol no México, mas nos últimos meses o consumidor brasileiro teve dificuldades para encontrar esses medicamentos nas redes de varejo. Também em 2011, a empresa vendeu a droga Sustrate (previne angina) para a Farmoquímica, que era considerado importante em volume de vendas.
Em 2011, a empresa reportou receita líquida de R$ 300,18 milhões no país, recuo de 15% sobre o ano anterior (de R$ 354,19 milhões). A empresa registrou prejuízo líquido de R$ 11,9 milhões no ano passado. Em 2010, o prejuízo líquido foi de R$ 8,58 milhões. A receita da companhia no Brasil tem caído nos últimos anos, indo na contramão das companhias que atuam nesse setor. Em 2009, o faturamento líquido foi de R$ 434,23 milhões, com lucro líquido de R$ 18,6 milhões. No mundo, o faturamento global ficou em US$ 21,244 bilhões em 2011, 9% acima de 2010.
“Muitas multinacionais que não entendem a cultura do Brasil e a relação dos consumidores com medicamentos maduros, acabam sofrendo um impacto nos seus resultados”, afirmou uma fonte ao Valor.
O foco da BMS está mais concentrado em vendas governamentais. Em abril de 2011, o Ministério da Saúde informou que firmou Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) com a Bristol, Farmanguinhos e Nortec, que envolve a transferência de tecnologia do antirretroviral Atazanavir (para Aids). O Ministério da Saúde desembolsou R$ 70 milhões na compra desse medicamento para este ano, totalizando 15 milhões de unidades. A economia de recursos gerada com a parceria foi de R$ 30 milhões, considerando que em 2010, o ministério havia adquirido o mesmo por R$ 100 milhões.
De acordo com a BMS, as vendas diretas para o Ministério da Saúde não foram contabilizadas localmente. Em relação à escassez de alguns medicamentos, a multinacional informou que essa questão está relacionada com a transferência de produtos da fábrica de São Paulo. A distribuição do Luftal voltou ao normal no fim de fevereiro e Naldecon retornará às farmácias a partir de julho. A empresa lançou no país dois medicamentos importantes, o Orencia e o Nulojix. Segundo a companhia, outros produtos biológicos estão sob aprovação da Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária).
Ao Valor, a Bristol informou, por sua assessoria, que o “aparente declínio na receita da companhia reflete a venda e o cancelamento de medicamentos não essenciais e que não traziam contribuição efetiva ao negócio do grupo”