Ministério da Saúde admite: Tamiflu não chegou às farmácias por falta de estoque

Após defender a restrição do uso do Tamiflu, antiviral indicado no tratamento da gripe A (H1N1), somente a pacientes em estado grave e declarar que a automedicação poderia causar resistência do vírus ao medicamento, o Ministério da Saúde reconheceu que o antiviral não chegou às prateleiras das redes de farmácia por falta de estoque suficiente para suprir a demanda. Especialistas chegaram a criticar a postura do ministério em restringir o Tamiflu, alegando que o número de óbitos causados pelo vírus poderia ser menor se a oferta do antiviral fosse menos restrita. De acordo com um boletim divulgado na quarta-feira (02/09), o Brasil já registra mais de 650 vítimas fatais da Influenza A, ocupando o primeiro lugar no mundo entre os países com óbitos causados pelo H1N1.

O Ministério da Saúde divulgou nota alegando que não há proibição da venda do Tamiflu e que a falta deste em farmácias ocorreu porque o laboratório Roche, fabricante do antiviral, deu prioridade ao ministério para fornecer o medicamento e que “esta medida é necessária para que o governo possa cumprir a missão de oferecer gratuitamente o medicamento à população em caso de necessidade”. O documento diz ainda que o governo já encomendou mais nove milhões de embalagens do Tamiflu ao fabricante, com entregas previstas até março de 2010.

Para o diretor de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, Eduardo Hage, a postura do laboratório em dar prioridade ao governo foi correta e que à medida em que a Roche aumente sua capacidade de produção, será possivel suprir a demanda do governo e também comercializá-lo à população. No entanto, a Roche declarou que não há previsão de quando o Tamiflu voltará a ser disponibilizado nas farmácias.

Segundo especialistas, as declarações de Hage contradizem as informações apresentadas pelo ministro da saúde, José Gomes Temporão, em restringir ao serviço público a tarefa de distribuição do antiviral, o que “evitaria uma corrida às farmácias”. Segundo o infectologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edmilson Migowski, o uso do Tamiflu em pacientes com sintomas da doença nas primeiras 48 horas seria uma medida eficaz no combate ao H1N1.

– A prova de que o uso mais amplo do medicamento diminuiria o número de mortes é que, depois que qualquer médico – da rede pública ou não – foi liberado a prescrever o medicamento, ocorreu uma redução do total de casos graves da doença.

Foi com a mesma justificativa que o defensor público da União, André Ordacgy, disse que irá usar para pedir indenização de 300 salários-mínimos por danos morais às famílias das vítimas da gripe suína. “É lamentável que tenham tomado uma decisão dessa depois de tantas mortes”, diz o defensor público, que teve o apoio oficial do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro. Ordacgy já havia entrado com uma ação civil pública no final de julho, exigindo que todos os pacientes tivessem acesso ao medicamento. O pedido fora negado há duas semanas pela 15ª Vara Federal.