Ministro chama manifestações racistas de inaceitáveis e descarta ‘fechamento’ de fronteiras

“Manifestações racistas são inaceitáveis em um país que se diz civilizado como o nosso. Temos que repudiar. É inaceitável que alguns brasileiros aproveitem esse momento para colocar sua raiva, seu ódio e suas manifestações racistas para fora”, afirmou, em entrevista no Ministério da Saúde.

O ministro afirmou ainda que as pessoas, “nesses momentos, colocam o que têm de pior para fora por meio das mídias sociais”.

O primeiro teste realizado no paciente de 47 anos com suspeita de ebola deu resultado negativo. Mas o diagnóstico só poderá ser totalmente descartado na segunda-feira, quando sai o resultado de um segundo exame realizado no paciente.

Após a suspeita ser divulgada, na quinta-feira, diversas manifestações racistas surgiram nas redes sociais. Reportagem da BBC Brasil mostrou que a maioria das pessoas que escreveu publicamente sobre o tema associou a palavra ebola ao termo “preto” no Facebook. No Twitter, houve comentários como “Ebola é coisa de preto” e “Graças ao ebola, agora eu taco fogo em qualquer preto que passa aqui na frente”.

O ministro também rejeitou a hipótese de impedir a entrada de africanos no país – hipótese também defendida por diversos internautas.

“Para a gente não é nem possível, não é necessário, é contraindicado. Se a gente fechar as fronteiras as pessoas vão continuar entrando, mas vão entrar como clandestinos e vão ter receio de se apresentar ao serviço de saúde”, disse.

O ministro acrescentou que, se o paciente com suspeita de ebola tivesse ficado em casa com medo, ele poderia ter transmitido o vírus -se a doença tivesse sido confirmada- para outras pessoas.

O paciente procurou uma unidade de saúde em Cascavel, no interior do Paraná, após sentir febre. Como vinha de um país onde a ocorrência da doença é alta, seu caso foi classificado como suspeito.

Primeiro exame de paciente deu negativo para ebola.
Primeiro exame de paciente deu negativo para ebola.

Sem os registros de sua entrada, também não teria sido possível confirmar a data de sua chegada, o que possibilitou verificar que, caso estivesse infectado, ele ainda poderia estar no período de incubação do vírus, que dura até 21 dias.

Chioro disse também que o Brasil já acompanha possíveis casos suspeitos em portos e aeroportos, mas rejeitou a adoção de testes nos aeroportos brasileiros, medida que já foi anunciada nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha.

Ele disse que o caso suspeito não teria sido identificado mesmo se houvesse medição de temperatura nos aeroportos brasileiros, já que o paciente só teve febre dias após entrar no país.

O secretário de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, disse que a medida se mostrou inócua todas as vezes em que foi adotada por algum país.

Ambos defenderam a realização de testes na saída dos países onde a epidemia está concentrada. As autoridades locais já estão realizando essas triagens, com supervisão da OMS (Organização Mundial de Saúde).

Segundo Chioro, o paciente com suspeita de ebola afirmou que passou por essa averiguação na Guiné.

O ministro da Saúde afirmou ainda que o Brasil continua sendo um país com “risco baixo” de transmissão da doença.

“O Brasil continua sendo um país com pouca chance de transmissão da doença, o que não significa que não pode ocorrer, mas o risco é baixo. Nosso fluxo de turismo de viajantes com esses países é pequeno”, afirmou.

Ele acrescentou ainda que os preparativos para a Copa do Mundo deixaram um legado que tornou eficiente a resposta do sistema de saúde a ameaças como a do ebola.

 

Fonte: BBC Brasil