Mitos e verdades sobre a “Síndrome da Classe Econômica”
Por Antonio Carlos Lopes*
O organismo humano é um longo caminho percorrido pelo sangue durante toda a vida. Bombeado continuamente pelo coração, o fluxo sangüíneo leva oxigênio a todas as células do corpo até retornar ao coração, dando início a um novo percurso. Este processo é ininterrupto. Neste sentido, o sistema de coagulação/anticoagulação é extremamente importante para que não surjam sangramentos e tromboses.
Este sistema possui diversos elementos importantes, como as plaquetas, que rapidamente são direcionadas para inibir um sangramento, formando um trombo. Com o passar do tempo, este trombo é dissolvido, permitindo que a circulação sanguínea volte ao normal naquela região.
Desta maneira, a trombose é um distúrbio no equilíbrio coagulação/anticoagulação com predomínio da primeira. Ou seja, é a produção de trombo em locais onde não há sangramento. O maior risco está na possibilidade destes trombos se desprenderem e, com o sangue, percorrerem o caminho da circulação venosa. Se os trombos chegam aos pulmões fica caracterizada a temível situação que é a embolia pulmonar, causa de inúmeras mortes súbitas.
Vítimas de embolia pulmonar depois de viagens longas, em ambientes nos quais a mobilidade é reduzida, como em carros, ônibus e aviões, vêm sendo estudadas há algumas décadas. Não faz muito tempo, o fenômeno passou a ser chamado “Síndrome da Classe Econômica”, em alusão às estreitas poltronas dos vôos comerciais.
Como foi dito, o mal não se restringe apenas às viagens de avião, embora nestes ambientes haja agravantes, como altitude elevada e baixa umidade relativa do ar. Longas distâncias percorridas em ônibus e até mesmo muitas horas na mesma posição em frente ao computador, por exemplo, podem acarretar o problema. Porém, a posição desconfortável e a restrita movimentação não são os únicos motivos da embolia pulmonar, visto que apenas uma pequena minoria acaba desenvolvendo o problema.
Na grande maioria dos casos, quando possível, levantar e dar alguns passos pelo corredor no meio da viagem, movimentar as pernas mesmo sentado ou, ainda, massagear a panturrilha é suficiente para prevenir qualquer complicação. Também foi verificado que grande parte das vítimas ingeriu bebidas alcoólicas durante as viagens. Com álcool no sangue, o passageiro tende a deitar mal acomodado e com postura incorreta, o que pode acarretar a trombose nos membros inferiores. Portanto, a ingestão de bebidas alcoólicas também deve ser evitada durante viagens longas.
Pacientes com problemas circulatórios previamente diagnosticados, antecedentes familiares, inchaços freqüentes nos membros inferiores, idosos e cardiopatas devem consultar um médico para receber orientações específicas antes de viagens longas. O uso de meias elásticas e medicamentos anticoagulantes pode prevenir o problema, porém, a profilaxia deve ser feita sempre com indicações precisas do médico, pois os medicamentos não podem ser utilizados indiscriminadamente.
(*) Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Artigo publicado do Portal Médico, dia 13/11/08.