Mortalidade e letalidade materna por Covid-19 no Brasil
Elaborado por Vânia Muniz, Rede Feminista de Saúde-Regional Pr
Dados da pandemia do SARS COV 2/ COVID 19, do Observatório Obstétrico Brasil da COVID 19 ( mar/ 2020 a out/ 2021), demonstram que o vírus e a falta de gerenciamento adequado da pandemia atingiu desproporcionalmente e gravemente o grupo populacional de gestantes e puérperas no Brasil.
A gravidade da situação pode ser observada quando se avalia que ocorreram 21.711.843 casos de COVID-19, acarretando 605.139 óbitos que levou a uma taxa de letalidade de 2,8% na população em geral, no Brasil, enquanto na população de gestantes e puérperas a taxa de letalidade foi de 11,7%, 4,2 vezes maior que a taxa da população em geral (tabela 1).
As desigualdades da letalidade entre as regiões é demonstrada pelo número de estados por Região com média de letalidade materna acima de 10%, que totalizou 17 dos 28 estados e DF, sendo na Região Norte 6 estados (Roraima com os absurdos 55,7% de letalidade materna, Acre 30,%, Tocantins 22,5%, Rondônia 22,4%, Pará 11,8%, Amazonas 10,4%); na Região Nordeste 6 estados (Sergipe 25,4%, Rio Grande do Norte 24,7%, Maranhão 24,5%, Bahia 15,9%, Alagoas 15,7%, Piauí 14,4%); na Região Sudeste 3 estados (Espirito Santo 34.3%, Rio de Janeiro 21,5%, Minas Gerais 12,0%); na Região Centro Oeste 1 estado ( Goiás 13,8%); na Região Sul 1 estado (Paraná 11,7%).
Destaque-se que todos os estados tiveram letalidade por COVID -19 de gestantes e puérperas maior que a letalidade da população geral no Brasil (2,8%).
Pode-se afirmar que trata-se de um verdadeiro genocídio, uma vez que se contabiliza-se até o momento 1912 0BITOS MATERNOS APENAS POR COVID -19 (459 em 2020, e 1453 em 2021) e, considerando que em média ocorriam no Brasil, antes da pandemia, 1692 Óbitos maternos por todas as causa obstétricas diretas e indiretas ao ano (quinquênio 2015-19), que determinava uma RMM 57/100 mil nascidos vivos/ano.
A RMM em 2020 poderia então ser estimada em cerca de 73,8/100mil NV (cálculo: 1692 média de OM + 459 OM COVID-19 dividido por 2.916.337 média de nascidos vivos 2015-19 x 100 mil) e em 2021 RMM de 107,8/100mil NV (cállculo:1692+1453 COVID/2.916337*100 mil). A meta esperada da RMM para o Brasil segundo os ODM e ODS deveria ser próximo de 30/100 mil NV.
Destaque-se também, que não foram incluídos neste levantamento os óbitos maternos de SRAG não especificadas e as Morte Maternas Tardias (43 dias a 1 anos após o parto) por COVID-19. Essas deverão ser valorizadas na avaliação final de cada ano após liberação dos dados do SIM de 2020 e 2021 pelo Ministério da Saúde, o que deve aumentar ainda mais a Razão de Morte Materna nos estados e no país.
Seria imprescindível e necessário um amplo e detalhado estudo dos óbitos maternos por COVID-19 e dos seus reais determinantes, em Câmaras Técnicas Interinstitucionais e Multiprofissionais de Análises de Óbitos Maternos vinculados aos Comitês de Prevenção de Mortalidade Materna em todos os Estados, para avaliar que medidas poderão evitar novos óbitos maternos nas próximas pandemias. Estudos já apontam maior mortalidade materna por COVID-19 de mulheres negras, e, devido à falta de acesso oportuno a respiradores, intubação, UTI, tratamento em tempo hábil e, claro, a falta de vacinação em tempo oportuno para todos, mas especialmente para gestantes e puérperas, erros e omissões relacionadas ao negacionismo dos “governantes” do Brasil especialmente o “presidente da república”.
Das capitais nos Estados brasileiros 15 tiveram letalidade maior que 10%, sendo que na Região Norte foram 6 capitais (Boa Vista, Palmas, Rio Branco, Macapá, Porto Velho, Manaus), na Região Nordeste 5 capitais (Aracaju, Natal, São Luiz , Maceió, Salvador), na Região Sudeste 2 capitais( Vitoria, Rio de Janeiro), Região Centro Oeste 2 capitais (Goiânia, Campo Grande).
São alarmantes as taxas de letalidade de Boa Vista/RR 55,3%, Vitória/ES 50,0%, Palmas /TO 34,6%, Rio Branco/AC 27,8%, e especialmente do Rio de Janeiro/RJ, com o maior número absoluto de óbitos maternos entre as capitais, 109 óbitos e taxa de letalidade de 23,2%, Natal, 20,3%, todas acima de 20%.
A letalidade materna por COVID -19 também parece ter sido um pouco superior no conjunto dos municípios do ”interior”(12,10%) do que no conjunto das capitais dos estados(10,6%) (tabela3).
Observação: As taxas de letalidade foram calculadas utilizando o número de óbitos por Covid dividido pelo número de casos finalizados de Covid x 100, como calculado e informado no OOBr COVID -19.
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