Mortes por Aids caem 24%
Correio Braziliense – 19 de julho de 2012
Relatório Global da ONU sobre o vírus HIV destaca avanços no combate mundial à doença. Segundo dados, nações estão próximas das metas de zero óbitos e infecções, a ser cumprida até 2015. Ainda assim, em 2011, mais de 7 mil pessoas foram infectadas por dia.
Das metas para controle do HIV no mundo, que determinam zero infecções, zero discriminação e zero óbitos estipuladas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para 2015, duas serão alcançadas. O acesso universal ao tratamento da doença c,,,,,,om a eliminação da transmissão da mãe para o bebê, que influenciam diretamente nos novos casos e nos óbitos podem levar os países a eliminarem dois dos zeros. Segundo o coordenador da Unaids no Brasil, Pedro Chequer, o Relatório Global 2012 da ONU, divulgado ontem, sustenta essa conclusão.
De acordo com o documento, o tratamento da doença com antiretrovirais que se aproximava de zero em 2003 está crescendo, em consequência, o número de óbitos está caindo. De 2005 para 2011, as mortes em decorrência da Aids caíram 24%, chegando a um patamar de 1,7 milhão de óbitos. Já a cobertura da doença pelo tratamento com antiretrovirais está em alta, subiu de 400 mil pessoas em 2003 para 8 milhões, no ano passado, o que representa 54% da população alvo.
Pedro Chequer lembra que as metas já foram consideradas inatingíveis e destaca que hoje existe a possibilidade concreta de se chegar a cobertura total da doença. “Quando declaramos as metas, haviam dificuldades claras. Alguns consideravam que éramos visionários”, ressaltou. A transmissão vertical (de mãe para filho) também está em queda. “Os gráficos mostraram um avanço. Se com 61% das gestantes fazendo tratamento para prevenção da transmissão conseguimos uma queda elevada (de quase 700 mil novos casos em 2001 para 330 mil em 2011), imagina se chegarmos a 80%, 90%. Se não chegarmos a zero nas transmissões verticais chegaremos a um número muito próximo dele”, prevê. Com a queda na mortalidade, cai também os falecimentos em decorrência da tuberculose – doença gerada pela Aids que mais mata atualmente.
Segundo a ONU, o maior entrave, no entanto, ainda é o preconceito. O coordenador residente da instituição no Brasil, Jorge Chediek, acredita que a violência contra a mulher e a homofobia são os pontos mais preocupantes. Embora lembre que é preciso avançar, Chediek ressalta que os países estão conquistando bons resultados. Uma doença que há 20 anos era considerada praticamente uma sentença de morte, está se tornando crônica. “Quando a comunidade internacional assume o compromisso, é possível fazer a diferença”, declara.
Juventude
O relatório também mostrou que mais de 7 mil pessoas foram infectadas por dia pelo vírus HIV em 2011. Cerca de 97% dos casos ocorreram em países de média e baixa renda. Das notificações, quase 900 foram em menores de 15 anos. Os jovens, de 15 a 24 anos, seguem como grupo de maior contaminação, atingindo 41% dos novos casos. Apesar de o número de infectados ainda ser alto, também cresceu a participação de investimentos de países pobres no combate à doença. De acordo com Chequer, antes somente as nações desenvolvidas davam atenção à Aids. No ano passado, os investimentos mundiais foram de US$ 16,8 bilhões no tratamento e na prevenção da doença. Só a África do Sul foi responsável por US$ 1,9 bilhão desse montante.
O Brasil foi um dos destaques do estudo. De acordo com Chequer, a diferença do país foi a adoção pioneira do tratamento com antiretrovirais. “E, independentemente do governo, a luta contra a doença continuou”. Para o diretor do departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, nada teria acontecido se não fosse o Sistema Único de Saúde. “No Brasil, todo esforço é com nosso dinheiro, não dependemos de incentivo internacional”, ressaltou.
Apesar da excelência, as pessoas continuam sendo infectadas no país – estima-se que 630 mil brasileiros estejam contaminados. Na visão de Greco, isso se deve a falta de uma política de testagem. “Não se pede exame de HIV. E não se pede porque as pessoas não tem cara de estar infectadas. Nós chegamos a um processo onde não existe mais grupo de risco, existe situação de risco com sexo não protegido. Temos de diagnosticar as pessoas que não sabem que estão infectadas”. A estimativa do ministério é de que 250 mil pessoas estejam nessas condições. “Se chegarmos a esses, nossa chance de interromper a transmissão é enorme.”
Preconceito: a maior barreira
A única meta da ONU que o Brasil não deve atingir é a eliminação da discriminação. A dificuldade no acesso ao sistema de saúde, enfrentado principalmente por gays e travestis, aliado a posições políticas que o país tem tomado podem pôr em risco a campanha vitoriosa de combate à doença. Na opinião do coordenador da Unaids no Brasil, Pedro Chequer, episódios como a suspensão da distribuição de material didático nas escolas com orientações homossexuais, o chamado “kit gay”, a censura (não divulgação em tevê) da campanha publicitária de carnaval que expunha um casal gay e a protelação para criminalização da homofobia podem levar ao retrocesso.
Para Chequer, zero discriminação é uma pendência decisiva. “Temos uma série de dificuldades e barreiras culturais. O estado laico é o princípio fundamental para que possamos ter efetivamente ações de controle da Aids fundamentadas de modo científico”, diz. O coordenador comenta que a campanha de prevenção censurada no carnaval foi a melhor que o ministério já produziu. Segundo ele, na medida em que se procura atender demandas de alguns segmentos sociais que não fundamentam a ciência em detrimento da ideologia, o Brasil corre risco de dar um passo para trás.
Outro exemplo é a proibição do “kit gay”. Para Chequer, o ato foi lamentável porque é na escola que repousa a esperança de construção de uma nova agência de prevenção, não só do HIV, mas da igualdade de gênero, diversidade e orientação sexual e diversidade racial.
O diretor do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, reforçou que a política brasileira não mudou e amenizou as intervenções sofridas. “Esse país é federativo com três Poderes, que não têm o mesmo alvo, então, algumas vezes pode ser que tenha um acidente de percurso, escorregue um pouco, mas o nosso caminho está marcado”, garantiu. (GC) Pílula contra HIV questionada
O coordenador da Unaids no Brasil, Pedro Chequer, fez uma ressalva em relação ao Truvada, medicamento lançado recentemente nos Estados Unidos apontado como capaz de prevenir o vírus. Segundo ele, é preciso ter cautela, pois a eficácia é menor que a da camisinha, além de ter efeitos colaterais. “Temos 8 milhões de pessoas que ainda precisam ser tratadas”, salientou. O diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Dirceu Greco, também mostrou-se desconfiado: “não existe pílula mágica”.