Nos quatro maiores hospitais, faltam leitos e espera por cirurgias chega a três meses
O Globo – 07/03/2012
Parentes dos pacientes sofrem com adiamentos das intervenções e temem infecções
Falta de médicos, acolhimento realizado por enfermeiros e dificuldade para conseguir leitos são alguns dos problemas relatados por profissionais de saúde das quatro principais emergências do Rio – Miguel Couto, Souza Aguiar, Lourenço Jorge e Salgado Filho – e do Hospital da Piedade.
Além disso, de acordo com eles, a falta de prevenção tem se mostrado uma realidade perversa. No Miguel Couto, entre janeiro e agosto de 2011, das 500 cirurgias vasculares realizadas, 350 foram para amputar pés, dedos e pernas de pessoas diabéticas, o que, na maioria dos casos, pode ser evitado em caso de prevenção. No Lourenço Jorge, na Barra, a espera causa “agonia”: um senhor que infartou aguarda desde janeiro a chance de operar. Além disso, a unidade não conta com neurocirurgião ou com cirurgião de tórax. No Salgado Filho, pode-se levar até três meses para conseguir uma cirurgia na coluna. Na ortopedia e na cirurgia vascular, os profissionais têm escolhido o paciente mais grave – “os menos graves vão esperando, esperando e piorando”.
Parentes que estiveram nessas unidades contam o “medo” que sentem ao não saber, por exemplo, quando o doente será operado.
– Ele foi internado no Salgado Filho e esperou 20 dias para operar o fêmur. Marcaram quatro vezes, e nenhum adiamento foi por problemas de saúde. Ficamos com medo dele ter alguma infecção hospitalar. Chegamos a ver gente que aguardava há três meses – conta Kely Neves, cunhada do paciente.
De acordo com médicos, o acesso aos hospitais está mais difícil desde que a prefeitura implantou o acolhimento na rede:
– O acolhimento é feito por enfermeiros, que analisam o risco. Então, os pacientes são mandados para os postos de saúde, mas não encontram atendimento – conta uma médica do Salgado Filho, lembrando que a maioria já passou por UPAs e clínicas da família: – Quem olha a emergência mais vazia, acha que o sistema melhorou. Mas as pessoas não conseguiram acesso.
No Hospital da Piedade, a pediatria sofre com o déficit de médicos. Na ginecologia, o déficit é de 7 médicos.
– Temos 12 pediatras e precisávamos de mais quatro. O déficit nos deixa com horário ocioso no ambulatório, com menos médicos nos plantões e ainda fez com que fosse suspenso o pronto atendimento – conta a médica Beatriz da Costa, lembrando que oito dos 18 leitos foram fechados.