Nota em solidariedade às acadêmicas e aos acadêmicos da Faculdade de Medicina da USP

O projeto civilizatório, pretendido pelo Sistema Único de Saúde, se não pode ser restrito a provimento de assistência e acesso a serviços, seguramente não prescinde deles para materializar-se na vida de todas as cidadãs e de todos os cidadãos. A saúde, como direito humano fundamental e universal, para efetivar-se, necessita, assim, tanto de sólido projeto nacional, que encontre ressonância nos demais entes federativos, como de priorização administrativa e orçamentária para que, de garantia Constitucional, torne-se realidade concreta ao povo brasileiro.

 

A Rede de Atenção à Saúde em São Paulo, nesta perspectiva, apresenta alternância de avanços e dissoluções em relação às políticas de saúde e aos equipamentos ofertados às suas e aos seus munícipes. Possuindo baixa cobertura em Atenção Primária, e, mesmo nos territórios cobertos, apresentando Serviços de acesso dificultoso e baixa abrangência de cuidado, conta com uma malha de Hospitais Regionalizados para referência que se consome entre oferta de porta para demandas – muitas das quais sensíveis à Atenção Primária – que poderiam ser acolhidas por outros equipamentos, e oferta de recursos para assistência de condições encaminhadas, muitas vezes sem devidos critérios, utilizando iniquamente investimentos.

 

O Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, no seio da região oeste do município, certamente é destas Unidades que produz atenção à saúde de alto significado e valor para o território. Para tornar-se Equipamento de exercício mais custo-efetivo, contudo, faz-se necessário aceitar o desafio de compreendê-lo como recurso regionalizado e em permanente diálogo com suas contra-referências, as Unidades Básicas de Saúde, tarefa que as Gestões Universitária, Hospitalar, das Organizações Sociais, do Município e do Estado devem assumir.

 

Tentando fortalecer o diálogo e sinalizar sua profunda preocupação com a sequência do desmonte do Serviço, sem que uma efetiva solução seja, ao menos, indicada, o Corpo Discente da Faculdade de Medicina da USP optou por ingressar em Greve Estudantil e destinar toda uma semana a atividades para defesa do Hospital Universitário e intervenções a respeito de possibilidades de enfrentamento para a situação verificada.

 

O Centro Brasileiro de Estudos da Saúde, contando com quatro décadas em defesa do legítimo processo democrático para produção de cuidado e saúde, solidariza-se com este ato histórico das acadêmicas e dos acadêmicos da Graduação em Medicina. Negligenciar a organização acadêmica como instrumento de formação e sensibilidade diante das necessidades do Sistema e da população seria fraudar o compromisso com um Ensino Médico e com um SUS democráticos e plenos.

 

O CEBES dispõe-se a auxiliar todos os atores envolvidos a encontrar alternativas de enfrentamento para fortalecer a Rede de Atenção à Saúde do município e manter o Hospital Universitário Unidade plenamente funcionante e central para assistência e para a formação de excelência.