O assassinato de João Alberto e a Consciência Negra
O dia 20 de novembro de 2020, quando se celebra a Consciência Negra no Brasil, data da morte de Zumbi dos Palmares, o herói da resistência à escravidão, amanheceu mais emblemático do que nunca. No dia anterior anterior, João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, foi assassinado nas dependências do supermercado Carrefour, na zona norte de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. João Alberto foi morto com socos, asfixia e pontapés por 2 seguranças e diante de 15 pessoas, sendo uma delas, segundo noticiado, a fiscal do estabelecimento, que filmava todo o episódio. O vídeo foi divulgado nas redes sociais e mídias.
“Quando estamos acuados, costumamos nos reunir naquilo que nós somos” (Kwamé Nkrumah, líder pan-africanista de Gana) e, assim, o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) se junta aos 55,7% da população negra do Brasil para se manifestar sua indignação e seu horror diante de mais um episódio que, além de ter se tornado usual nesta rede de supermercados, faz parte da vida e do cotidiano desta população que ocupa os segmentos de maior vulnerabilidade da população brasileira e que vive exposta todos os dias à violência policial, onde 75% dos jovens assassinados pela polícia no país são negros.
O dia da Consciência Negra é um dia para aprofundarmos o cenário do racismo que, estruturado na nossa sociedade, continua produzindo no nosso cotidiano a naturalização das atitudes de violência e morte promovendo o genocídio como um projeto que insiste em exterminar a população negra e manter seus sobreviventes nos espaços por ele determinado: fora das escolas e dentro das prisões. O dia de Zumbi é dia de falarmos de ações afirmativas para superar o legado de exclusão e abandono que a escravidão oficial nos deixou. E um assassinato emblemático ocorre mostrando que mais do que nunca precisamos estar juntos. Juntos para recontarmos nossa história de luta e resistência, celebrarmos nossa ancestralidade e exigir que o crime seja apurado e os culpados punidos.
Não podemos continuar aceitando que a cada 23 minutos uma pessoa negra seja assassinada e nos mantermos indiferente ao aniquilamento e a brutalidade policial.
É hora de nos juntarmos naquilo que somos ou seremos todos aniquilados como nação.
Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes)