8M: O Brasil necessita enterrar seu passado patriarcal e escravista
por Hildete Pereira de Melo, do Programa de Estudos de Pós-Graduação em Política Social e Núcleo de Pesquisas em Gênero e Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF)
As manifestações que ocorrem no dia “8 de Março” em todo o mundo, originam-se das lutas das mulheres pela cidadania e a igualdade, tanto das lutas das mulheres da classe trabalhadora para formar sindicatos, como da luta pelo direito de votar e ser votada das mulheres. Essas duas questões uniram as mulheres europeias com suas irmãs nos EUA e assim, para não esquecer que em 8 de março de 1908, centenas de mulheres trabalhadoras do comércio de agulhas de Nova York foram as ruas para formar seu próprio sindicato e exigir o direito ao voto.
A repercussão desta manifestação foi grande e inspirou as mulheres socialistas europeias reunidas na Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, lideradas pela feminista socialista alemã Clara Zetkin (1857-1933), que realizava-se em Copenhague, em 1910 a aprovarem uma moção que a cada ano as mulheres do mundo realizariam manifestações pelo sufrágio feminino e pelos direitos a cidadania das mulheres.
No Brasil a primeira vez que as mulheres ousaram comemorar o “Dia Internacional da Mulher” aconteceu no Rio de Janeiro, em 8 de março de 1947, liderada por Alice Tibiriça (1886-1950) numa solenidade presidida pela líder udenista Nuta Bartlet James (1885-1976) A reunião debateu e reivindicava direitos sociais, políticas públicas e condições dignas de trabalho – Salário igual para trabalho igual. Em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu as lutas das mulheres do mundo e oficializou o 8 de março como Dia Internacional da Mulher. Assim, esta data voltou a ser relembrada pelas feministas cariocas, em 1978 e desde então o 8 de março entrou no calendário feminista das mulheres brasileiras como um dia de luta pela igualdade.
Hoje no Brasil de 2022, vive ainda em meio da pandemia de covid 19, as mulheres boquiabertas assistem a diatribe do governo Bolsonaro contra os direitos e conquistas feminina tão duramente conquistas ao longo dos últimos 34 anos. E pasmem, vemos o Brasil liderando uma aliança ultraconservadora de países violadores de direitos das mulheres através do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Nos dois últimos anos exacerbou-se o quadro de desigualdade entre as mulheres e os homens. Multiplicou-se o desemprego das mulheres e a fome ronda seus lares.
E paradoxalmente as mulheres estiveram e estão no centro das respostas a pandemia covid-19, seja cuidando de suas famílias, seja no mundo do trabalho, cuidando dos enfermos nos hospitais e clínicas do Brasil. Pois as mulheres são 72% dos profissionais do setor de saúde brasileiro e isto representa 8,2% da população trabalhadora feminina (IBGE, PNADC, 3º trimestre de 2020). Diante destes números o CEBES não pode esquecer o significado do 8 de março nas lutas femininas pela conquista da igualdade na divisão dos trabalhos dos cuidados no seio das famílias, como no mundo do trabalho.
Alertamos, que a saúde, também vive uma desigualdade nas relações de raça que aliada à de gênero potencializa a discriminação na sociedade. Porque as mulheres ainda são as responsáveis, exclusivas pelos cuidados, no âmbito da família e no mercado de trabalho. Pois, elas trabalham massivamente nas profissões dos cuidados, como educadoras, na saúde, nos serviços sociais e no trabalho doméstico remunerado. O Brasil necessita enterrar seu passado patriarcal e escravista ainda presente na sociedade. A vacina venceu no combate à pandemia, mas é preciso dizer um BASTA a miséria que ronda as famílias brasileiras.