O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) articula parcerias e promove expedições para a prevenção de doenças da pobreza

Fonte: Agência Fiocruz de Notícias – 19/01/2012

Pesquisadores que deixavam de seus laboratórios para desbravar os cantões do Brasil, mapeando e descobrindo doenças: este era o perfil dos cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que, no início do século 20, participaram das famosas expedições científicas para descrever o quadro da saúde no interior do país. Hoje,o desafio é diferente. A perspectiva é de agir sobre o cenário atual da saúde, que é diferente em cada região, e que associa seus determinantes biológicos aos determinantes sociais da saúde, como renda, educação, habitação, saneamento e outros. A proposta do projeto Ciência, Educação e Cultura para a Saúde e a Superação da Pobreza assume justamente este objetivo. A primeira parada, em caráter piloto, está prestes a acontecer no município de Paudalho, no interior de Pernambuco.

De 23 a 27 de janeiro, os pouco mais de 50 mil moradores da cidade poderão participar de atividades na praça, sessões de cinema, oficinas e exposição a céu aberto. Para 40 professores, agentes de saúde e estudantes da localidade, o curso de férias ‘Saúde é o que interessa, doença é o que não presta’ abordará temas de saúde . O foco principal são as doenças associadas à pobreza, como esquistossomose, tuberculose, geohelmintoses, hanseníase e filariose. “Combinar promoção da saúde com prevenção de doenças implica em conhecimento, troca de saberes e aplicação de conhecimentos. Implica em mudanças culturais locais, onde as escolas, as unidades básicas de saúde e os grupos culturais têm um papel muito relevante. Atingir esse público, difundir e trocar conhecimentos, sensibilizar e mobilizar as pessoas é o principal objetivo das expedições contemporâneas da Fiocruz, que começarão pelo Nordeste e se espalharão por todo o país, consolidando nossas redes de parcerias”, afirma Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC e líder da iniciativa.

A iniciativa está integrada ao Programa Brasil Sem Miséria, do governo federal, e conta com numerosos parceiros: Ministério do Desenvolvimento Social, Governo de Pernambuco, Fiocruz Pernambuco, Fiocruz Brasília, Fiocruz Minas, Fiocruz Bahia, Instituto de Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e Diretoria de Planejamento (Diplan/Fiocruz). Articular tantos parceiros foi um desdobramento natural do papel provocativo que o Instituto assume no campo das doenças negligenciadas da pobreza. “Foi a partir de nossa ação, por meio de uma Nota Técnica publicada no início de 2010, que o MDS incluiu o tema das doenças da pobreza no Plano Brasil Sem Miséria. Estamos dando sustentação a esta perspectiva por meio de várias frentes, em que já temos a pesquisa científica e a pós-graduação. O projeto Ciência, Educação e Cultura para a Saúde e a Superação da Pobreza é mais uma dessas frentes, Tania situa. A ação em Paudalho será uma verdadeira prova de fogo para o formato de ação planejado. “Esperamos colher bons frutos desta ação piloto em Paudalho, que abrirá caminho para a pactuação de movimentos mais amplos, em diversas localidades”, descreve.

Nova versão

Tania conta que a ideia de retomar as expedições do Instituto Oswaldo Cruz aos sertões do Brasil (1911-1913), quando Carlos Chagas, Arthur Neiva, Belizário Penna e outros cientistas da época descreveram a situação de saúde em profundos rincões, partiu da identificação da pobreza como um problema que persiste. “Muito foi feito, por meio de políticas públicas específicas”, ressalta, acrescentando que o Brasil já retirou 40 milhões de pessoas da faixa da pobreza e alterou parte dos principais determinantes sociais das doenças transmissíveis. Isto, associado à promoção da saúde e a intervenções preventivas e curativas, já reduziu de mais de 50% para menos de 5% o impacto das doenças infecciosas na mortalidade da população. No entanto, restam 16,2 milhões de brasileiros na extrema pobreza. O enfrentamento das doenças infecciosas da pobreza se concentra exatamente nas localidades em que estão as pessoas mais pobres, foco agora das ações do plano Brasil sem Miséria”, justifica.

Escolha intencional

A escolha do município de Paudalho para a realização da primeira expedição deve-se ao fato do município constar entre os prioritários do projeto Sanar, do Governo de Pernambuco, para enfrentamento de três doenças negligenciadas: esquistossomose, helmintoses e tuberculose. “Paudalho também pode ser considerado representativo dos pequenos municípios que lidam e lutam bravamente contra a pobreza”, Tania informa. Dos domicílios locais, 51,6% abrigam famílias vivendo com até dois salários mínimos. Além disso, Paudalho tem uma rica tradução cultural e uma forte história de movimentos sociais pelo direito à terra e à cidadania, tendo sido palco de lutas pioneiras das ligas camponesas no Nordeste.

Programação

Serão várias atividades concomitantes. O curso atenderá professores da educação básica, alunos do 8º e 9º ano e agentes de saúde. O fórum de cultura com saúde, ciência e educação, integrando arte e cidadania, aberto à população, ocupará o centro da cidade no momento das tradicionais festividades de São Sebastião, abrindo diversos espaços para debates, informação e formação sobre saúde. Estão previstos mostra de vídeos, exposição e oficinas de música e uso do lixo, dentre outros temas. Tendas para encontros estarão disponíveis para a interação do público e formação de uma rede de apoio ao plano Brasil sem Miséria. Observação astronômica, Show de Química e Noite do Cordel e de Violeiros completam a programação, organizada pelo Espaço Ciência e pelas secretarias de Saúde e de Cultura.