O que o novo Brics reserva aos povos mais vulnerabilizados?
O novo grupo multilateral traz uma proposta diversa e aponta críticas importantes sobre a desigualdade entre países ricos e países em desenvolvimento. Nessa segunda (18), Cebes promoveu debate sobre como a nova configuração dos BRICS vai afetar a geopolítica mundial da saúde.
O novo Brics, que a partir de 2024 deverá ser composto por 11 países, ao invés dos cinco anteriores (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), traz novas possibilidades para a economia global. Particularmente, vamos nos atentar para o esforço de se viabilizar o complexo econômico e industrial da saúde e a relação da nova organização do Brics quanto a isso.
Os novos países que farão parte do bloco são: Argentina, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã). No Cebes Debate dessa segunda (18), o professor emérito da Fiocruz e diretor do CRIS (Centro de Relações Internacionais em Saúde – Fiocruz), Paulo Buss, destacou a presença das fortes disputas no terreno geopolítico e comercial e necessidade do rompimento do Brics, com os “cânones estabelecidos ad nauseam” há décadas na regulação do comércio internacional baseado nos interesses das grandes potências europeias e dos EUA.
“O volume do comércio internacional produzido intra-brics e agora com a introdução de mais seis países, de fato configura uma grande novidade no terreno da produção de insumos para a saúde“, comentou o professor. “Não apenas para medicamentos genéricos ou vacinas. Sabemos que o Brics produziu grande parte da vacina do mundo”.
Para Buss, as iniciativas do novo Brics incluirão um questionamento das regras do comércio, assim como dos bloqueios com relação aos acordos patentários. “Creio com bastante firmeza que vamos ter uma flexibilização do comércio intra-Brics e do comércio de Brics com suas ampliações com estes seis parceiros e seus respectivos parceiros”.
Notadamente, com os novos integrantes o Brics será um grande vetor da economia de petróleo, assim como grãos e alimentos em geral, sem contar a produção de metais raros como lítio, magnésio e grafite.
“A grande questão que vai se colocar nos próximos anos é a coerência de Brics, se ele vai implodir este modelo ou se é uma conversa pra boi dormir. Temos que acreditar nos propósitos que são colocados em princípio, mas também temos que ver os próximos movimentos que serão feitos” – Paulo Buss
Posição do Brasil – Nesta semana uma sinalização importante aconteceu durante o discurso do presidente Lula na abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). O presidente foi categórico ao combater a corrosão do princípio do multilateralismo global. Para Lula o atual modelo pós Segunda Guerra não representa mais a geopolítica do século 21, já que não conta com uma representação adequada dos países emergentes.
“Continuaremos críticos a toda tentativa de dividir o mundo em zonas de influência e de reeditar a Guerra Fria. O Conselho de Segurança da ONU vem perdendo progressivamente sua credibilidade. Essa fragilidade decorre em particular da ação de seus membros permanentes, que travam guerras não autorizadas em busca de expansão territorial ou de mudança de regime. Sua paralisia é a prova mais eloquente da necessidade e urgência de reformá-lo, conferindo-lhe maior representatividade e eficácia”, disse Lula.
Sul global – O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, comprometido na ONU em falar em nome de “uma voz do sul”, também expôs a gritante diferença entre países ricos e aqueles em desenvolvimento. “Um novo e mais justo contrato global é imperativo”.
Na semana passada (15 e 16 de setembro), Havana sediou a cúpula do G77+China, da qual o presidente Lula também participou. A cúpula reuniu 116 países para discutir o enfrentamento dos desafios da atualidade e do desenvolvimento científico e tecnológico dos países que pertencem ao sul global.
Na ONU, Lula também criticou o bloqueio econômico imposto a Cuba pelos Estados Unidos desde 1962. “Nosso país sofre um cerco real, uma guerra econômica extraterritorial, cruel e silenciosa”, disse o presidente cubano durante sua fala na assembleia.
“A ONU precisa cumprir seu papel de construtora de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Mas só o fará se seus membros tiverem a coragem de proclamar sua indignação com a desigualdade e trabalhar incansavelmente para superá-la” – Lula
Nessa segunda (18), o Cebes Debate realizou um encontro muito rico sobre este assunto nesta semana. Além de Buss, também participaram da conversa Carlos Fidelis e Lenaura Lobato, presidente e vice-presidente do Cebes. A modaração foi de José Noronha, diretor da entidade. Para acessar, clique aqui ou veja a seguir: