O resultado dos maus hábitos
Correio Braziliense – 21/05/2012
Segundo especialistas, o aumento das mortes por doenças dos aparelhos circulatório e respiratório decorre do envelhecimento dos brasilienses, mas também de uma alimentação ruim, da falta de exercícios físicos e do tabagismo. O câncer deve liderar o ranking no futuro NotíciaGráfico
As mortes por doenças circulatórias devem diminuir à medida que a população adote hábitos de vida mais saudáveis, como a prática de exercícios
A população do Distrito Federal morre, principalmente, por doenças do aparelho circulatório, seguidas por câncer, causas externas — que incluem homicídios — e problemas no aparelho respiratório, conforme aponta o Relatório de Doenças Não Transmissíveis de 2011, da Secretaria de Saúde do DF (SES-DF) (veja quadro). Nos últimos nove anos, males como o acidente vascular cerebral (AVC), o infarto do miocárdio, a insuficiência cardíaca e a hipertensão contribuíram para um aumento de 2,5% nos óbitos por complicações relacionadas à circulação — no ano passado, a cada grupo de 100 mil habitantes, 118,9 morreram em decorrência de doenças do tipo. Outro destaque do levantamento é o crescimento, no mesmo período, de 54% no número de pessoas que perdem a vida devido a doenças do aparelho respiratório, que incluem enfisema pulmonar, pneumonia, asma e bronquite.
Os dados do relatório surpreendem especialistas, mas demonstram a tendência de envelhecimento da população, aliada aos maus hábitos alimentares, à falta de exercícios físicos e ao tabagismo. “Acreditamos que, daqui a 15 anos, o número de mortes por câncer irá aumentar de tal forma que tornará essa doença a primeira do ranking, seguida por doenças dos aparelhos respiratório e circulatório, que deverão se manter estáveis na próxima década”, explica Arturo Santana, gerente de câncer da SES-DF.
Para o coordenador do Centro de Pneumologia da secretaria, João Daniel Bringel Rego, o aumento da mortalidade por doenças do aparelho respiratório se deve ao hábito do tabagismo. “As pessoas que fumaram durante 20, 30 anos começam a apresentar os sintomas de complicações, tais como enfisema pulmonar e quadros de pneumonia grave acompanhados por asma, que acabam levando à morte”, explica. Rego descarta o crescimento de mortes devido ao aumento da poluição. “Claro que contribui para o aparecimento de doenças respiratórias, mas elas não acarretam o óbito imediato. Geralmente, elas vêm acompanhada de doenças crônicas e que, sem o tratamento adequado, provocam a morte”, revela o pneumologista.
Mudança
Já as mortes por conta das doenças do aparelho circulatório podem diminuir ao passo que a população começa a adotar hábitos de vida saudáveis, tais como a ingestão de mais frutas e verduras, a prática de exercícios físicos e o abandono do tabagismo. Segundo o tratorista Osmar de Souza Caldas, 51 anos, que fez cirurgia para a colocação de ponte de safena há 10 dias, esses serão os novos costumes adotados no dia a dia. “Por pouco, não morri por mal súbito. O médico disse que 70% da veia do coração estavam obstruídos e isso tudo se deve aos 18 anos de fumo, de má alimentação e de falta de exercício. A partir de agora, vou mudar para evitar o pior. Não quero voltar a passar por cirurgia novamente”, planeja.
Os primeiros sintomas de que as coisas não iam bem, segundo Caldas, eram a falta de ar, o cansaço e as pontadas no peito. “Achava que era normal pelo fato de estar acima do peso, mas, quando fui ao médico, descobri que era grave e precisava operar. Foi um susto para mim e para toda a família, mas, graças a Deus, tudo deu certo”, conta o tratorista.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) no DF, Renault Ribeiro Júnior, a diminuição da mortalidade por doenças do aparelho circulatório só deverá ocorrer quando as pessoas passarem a dar mais atenção aos fatores de riscos. “Existe uma pesquisa internacional que comprova que a redução dos fatores de riscos, com o controle da hipertensão arterial, do colesterol e a redução do tabagismo, contribuem para a queda em até 40% dos casos de AVC e infarto. Dessa forma, o governo economizaria em investimentos financeiros em novos centros de tratamento e contratação de profissionais”, observa.
O cardiologista chama a atenção para o crescimento também de diabéticos que acabam morrendo por problemas circulatórios. “Observamos que, nos últimos anos, aumentou o número de pessoas com diabetes e a maioria delas morre por doenças cardíacas. Tudo isso pode ser evitado com alimentação saudável, exercício físico e exames de rotina, que auxiliam na detecção do diagnóstico precoce”, aconselha Renault Ribeiro Júnior.
Segundo o relatório da SES-DF, em 2009, ocorreram 407 óbitos devido a diabetes, sendo 185 de homens e 222 de mulheres. As doenças cerebrovasculares foram responsáveis por 841 mortes no DF. Já as isquêmicas do coração (que incluem infarto) contribuíram para 684 óbitos.
A prevenção, de acordo com os especialistas, é ainda o melhor remédio para evitar a mortalidade por doenças dos aparelhos respiratório e circulatório, visto que a rede pública de saúde não tem condições de atender aos pacientes que deverão surgir nos próximos anos. “Falta equipamento e pessoal capacitado para dar conta da demanda”, afirma o presidente da SBC.
PALAVRA DE ESPECIALISTA
Antes e depois de cirurgia
“A radioterapia é utilizada hoje no Brasil para o tratamento de pacientes com câncer, em estágio avançado e que não podem passar por cirurgia, e para aqueles que já concluíram as sessões de quimioterapia. O procedimento, muitas vezes, é realizado após a cirurgia, em associação ou não com a quimioterapia, para que se minimizem os riscos de uma reincidência ou disseminação (metástase) do tumor, mas também tem indicação antes da operação. Nesse caso, a sua função é tentar reduzir o tamanho do tumor, permitindo assim uma cirurgia mais segura. A radioterapia alivia certos sintomas da doença, pois tem utilidade como terapia paliativa, isto é, permite melhorar a qualidade de vida nos pacientes em que a situação já não é controlável. O Ministério da Saúde planeja um grande investimento nessa área por saber das vantagens do tratamento para os pacientes. O DF deverá adquirir equipamentos para dar conta do crescente número de pessoas que necessitam deste tratamento. É um campo da medicina que vai crescer e demandar mais profissionais especializados, por isso a importância da universidade em formar mais médicos especializados na área.”
Eronides Batalha Filho, do HUB