ONU esperava mais ambição em texto final da Rio+20

 

R7

Durante a abertura oficial da Rio+20, nesta quarta-feira (20), o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que esperava um resultado mais ambicioso do documento final da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

— Eu sei que muitos países esperavam resultados mais ambiciosos. Eu também esperava. Algumas propostas foram corajosas, mas alguns países tinham seus próprios interesses e anseios. Além disso, as negociações foram muito difíceis.

Representantes de alguns grupos discursaram sobre a importância da conferência e do documento que será entregue aos chefes de Estado. A neozelandesa Brittany Trifford, de 17 anos, falou em nome das crianças e jovens do planeta num discurso forte.

— Neste momento eu sou todas as 3 bilhões de crianças do mundo. Vocês já prometeram muitas mudanças e respeito ao meio ambiente. Essas promessas já foram feitas e nosso futuro ainda esta em grande risco. Estamos ficando sem tempo. Vocês têm 72 horas para decidir o destino dos seus filhos, dos meus filhos, dos filhos dos seus filhos. Estou aqui para lutar pelo meu interesse. Vocês estão aqui simplesmente para fazer bonito ou nos salvar e fazer com que o mundo seja mundo?

A representante do grupo das mulheres, Hala Dihou, disse que a comunidade feminina não está satisfeita com o documento atual.

— As mulheres estiveram à frente da revolução e continuaremos a lutar pela igualdade entre gêneros, dos direitos humanos, pela proteção ambiental e social, que são as bases das nossas vidas e nosso futuro. O texto preparado aqui no Rio é muito tímido sobre os nossos direitos. Não há nada sobre os direitos da nossa reprodução, não há nenhuma garantia para as mulheres que estão à frente de lutas e causas sociais femininas. O documento não nos dá os meios necessários para lidar com os grandes desafios que temos. O que as mulheres conseguiram no Rio? Muito menos do que esperávamos.

Representantes de grupos indígenas, industriários, ONGs, comunidades de ciência e tecnologia, produtores rurais, entre outros, também discursaram sobre seus posicionamentos e pediram medidas e ações para o desenvolvimento sustentável.

A primeira sessão plenária de abertura oficial da Rio+20 começou às 10h40 desta quarta-feira (20), no Riocentro, zona oeste do Rio de Janeiro. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, elegeu, por unanimidade, em nome das delegações estrangeiras, a presidente Dilma Rousseff para presidir a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

— Sou grata pelo mandato que acabam de me conferir. Indica o compromisso dos Estados com a complexa e urgente agenda sobre o desenvolvimento sustentável. Passo a condução dos trabalhos da conferência a Antonio Patriota (ministro das Relações Exteriores), vice-presidente ex-oficio da conferência. Na plenária da tarde falarei da posição do Brasil sobre os temas mais importantes.

Muito fraco x possível

O resultado dividiu as delegações. Houve quem definisse o tema como “possível”, “fraco” e “vitorioso”. Os representantes europeus se mostraram insatisfeitos. No Twitter, o comissário da União Europeia para mudanças climáticas, Connie Hedegaard, atacou:

— Ninguém naquela sala ficou feliz ao aprovar aquele texto. Ele é muito fraco e todos sabiam disso.

O ministro do Ambiente da Alemanha, Peter Altmaier, afirmou que não ficou “100% satisfeito”, mas ponderou que, em vista do que chamou de fracasso da conferência da ONU sobre o clima em Copenhague, em 2009, o texto da Rio+20 é “um sinal encorajador”.

O ministro do Desenvolvimento da França, Pascal Canfin, disse que o documento não é o ideal.

—Não estamos completamente satisfeitos, mas evitamos que a Rio+20 se transformasse na Rio-20.

Apesar de afirmar que a linguagem dos Direitos Humanos consta no documento da Rio+20, a Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay, definiu que o texto é um retrocesso.

— Alguns temas importantes como a liberdade de expressão, protesto e associação, os Direitos Humanos dentro dos negócios e no mundo empresarial ficaram fora do documento.

O secretário-executivo da ONG (Organização Não Governamental) Greenpeace, Marcelo Furtado, também criticou o texto, principalmente no que diz respeito aos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável. Ele disse que “o mundo sairá da Rio+20 sem as respostas de 20 anos atrás”.

Já a presidente Dilma Rousseff procurou injetar otimismo ao debate. Ela afirmou no México que a aprovação do rascunho final da Rio+20 “é um grande avanço e uma vitória”.

— Nós estamos fazendo o documento possível entre os diferentes países e as diferentes visões do processo relativo à questão ambiental.