ONU já aponta fracasso no evento

Correio Braziliense – 17/06/2012

Comunicação interna do órgão internacional, obtida com exclusividade pelo Correio, mostra decepção diante das negociações. Ontem, Brasil enxugou o texto na busca de consensosNotíciaGráfico

Rio de Janeiro — O texto do documento conclusivo da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Desenvolvimento Sustentável — Rio+20 permanece distante do ponto final. E integrantes do organismo internacional já classificam o ritmo das negociações como um fracasso. A inflexibilidade dos países ricos em se comprometer com metas a longo prazo, principalmente os Estados Unidos e o bloco da Europa, continua sendo o maior freio no caminho para um consenso entre as 193 nações.

“A sensação é de fracasso. Estamos em ano eleitoral em diversos países, entre eles os Estados Unidos, mas, ainda assim, esperava-se outra abordagem dessas nações. O que estamos vendo é uma enorme resistência diante das propostas de longo prazo. O (Barack) Obama (presidente dos EUA) não vai admitir nenhum acordo que coloque em risco sua reeleição, por exemplo”, revelou um funcionário de alto escalão da ONU.

As dificuldades em avançar em temas considerados fundamentais durante a Rio+20 não são surpresa para o organismo internacional. O Correio teve acesso a um comunicado interno enviado por e-mail pelo secretário-geral adjunto do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud), Olav Kjorven, no dia da abertura da conferência. Ele alertava que as rodadas de negociação ocorridas nos comitês preparatórios antes da Rio+20 pouco evoluíram. No documento, Kjorven classificava os debates realizados até aquela ocasião como “decepcionantes” e previa que as reuniões agendadas para o Rio iriam trazer pouca novidade: “Parece pouco provável que esta reunião(…) será capaz de resolver todas as questões pendentes”, afirmou, o que vem se confirmando até agora.

No mesmo texto, o representante da ONU diz que “parece improvável que uma seção de economia verde (conceito de expansão econômica com respeito ao meio ambiente e um dos temas mais importantes da Rio+20) vá surgir das negociações”. Destaca ainda que “o sucesso das negociações pode depender, em parte, das habilidades dos negociadores brasileiros”.

Mediação
Ontem, o Brasil assumiu efetivamente a presidência da conferência ambiental, passando a ser responsável pela mediação das discordâncias. Até o fim da tarde, havia consenso de somente 38% dos tópicos do documento. Ainda assim, o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, afirmou que pretende chegar à redação final até amanhã à noite, dois dias antes da primeira reunião dos chefes de Estado. Segundo ele, no primeiro dia de trabalho à frente das negociações, a delegação brasileira conseguiu enxugar o texto de 80 para 56 páginas. Embora Patriota tenha argumentado que foram suprimidos trechos repetidos do documento, a redução se deu por pressão de representantes de outras nações, que exigiram a exclusão de alguns tópicos.

Os principais conflitos estão no item conhecido como “responsabilidades comuns, mas diferenciadas”. Esse tópico, basicamente, estipula as obrigações de cada nação, mas em diferentes níveis, segundo a importância econômica. Aos estados desenvolvidos, a maioria grandes poluidores, são impostas regras mais rígidas. “Essa é a questão central. Os países ricos teriam que pagar a maior conta do prejuízo ao meio ambiente. Os grandes desastres naturais, como secas e inundações, atingem principalmente países menos favorecidos, que costumam poluir menos”, explicou o funcionário da ONU. O financiamento das medidas de desenvolvimento sustentável é outro ponto de imobilidade nas negociações até o momento.

Essa é a questão central. Os países ricos teriam que pagar a maior conta do prejuízo ao meio ambiente. Os grandes desastres naturais, como secas e inundações, atingem principalmente países menos favorecidos, que costumam poluir menos”

Funcionário da ONU sobre as divergências da convenção