País vai produzir primeira vacina para exportação
Guilherme Serodio | Valor
O Brasil vai produzir pela primeira vez uma vacina focada no mercado externo. Fruto de um convênio anunciado ontem, no Rio, a vacina dupla contra sarampo e rubéola será desenvolvida pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Bio-manguinhos) com recursos do Ministério da Saúde e da Fundação Bill e Melida Gates. O objetivo é a erradicar as doenças em países africanos onde são epidêmicas.
A nova vacina, que deve estar pronta para comercialização em 2017, marca a entrada do Brasil como um ator de alcance global no mercado de vacinas e credencia o laboratório de Bio-Manguinhos a ser um fornecedor em potencial para demandas internacionais da Organização Mundial de Saúde (OMS) na área.
O expertise brasileiro já é reconhecido internacionalmente. Hoje, o país exporta para 75 países vacinas desenvolvidas em centros de pesquisa nacionais para as necessidades brasileiras. Mas esta é a primeira vez em que uma fórmula é desenvolvida com foco em outros mercados.
“O convênio é o ápice de uma estratégia para o Brasil se lançar como um ator chave na saúde global”, afirmou ao Valor o secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos Augusto Gadelha, sobre a parceria com a fundação de Bill Gates. De acordo com Gadelha, o ministério tem focado investimentos em vacinas e triplicou o orçamento para a área nos últimos três anos.
A vacina será produzida na nova planta de Bio-Manguinhos em Santa Cruz, no Rio, um investimento anunciado de R$ 1,5 bilhão do Ministério da Saúde, que deve quadruplicar a capacidade de produção de vacinas do laboratório para 600 milhões de unidades anuais.
A nova vacina é uma demanda trazida ao laboratório pela Fundação Bill & Melinda Gates, que vai financiar o desenvolvimento da fórmula com um aporte de US$ 1,1 milhão.
“O investimento é pequeno mas está atrelado à capacidade de compra da vacina de 30 milhões de unidades anuais”, avalia o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha. Para ele, a chancela da fundação de Bill Gates, abre novas possibilidades para o laboratório brasileiro.
“O acordo consolida o papel da Fiocruz no mercado internacional”, afirmou Paulo Gadelha. “Mas o ganho de escala na produção de vacinas é importante também como estratégia de sustentação do nosso Plano Nacional de Imunização”, disse.
A fundação filantrópica de Bill Gates auxilia a Aliança Global para Vacinas e Imunização (Gavi, na sigla em inglês) – órgão responsável pela pesquisa de vacinas no âmbito da OMS. No Brasil, a fundação possui outros acordos com o Ministério da Saúde e instituições brasileiras de pesquisa com foco em saúde e desenvolvimento. Dentre os projetos de pesquisa da fundação no país, que somam investimentos de cerca de US$ 10 milhões nos dois anos de presença no Brasil, está o combate à dengue, tocado conjuntamente com pesquisadores em diversos países onde a doença persiste, como a Austrália. A fundação ainda apoia pesquisas que auxiliem no combate os nascimentos prematuros, uma das duas principais causas de mortalidade de bebês no país.