Para Heleno Corrêa “Gestores querem tudo aberto na economia, inclusive novas covas nos cemitérios”

artigo escrito por Heleno Corrêa Filho, médico e diretor do CEBES, publicado originalmente no Blog da Saúde, do portal Viomundo, com introdução da jornalista Conceição Lemes

Saiu a nova edição do Boletim Observatório Covid-19 Fiocruz. 

Refere-se às semanas epidemiológicas 35 (23 a 29 de agosto) e 36 (30 de agosto a 5 de setembro).

Ele traz um panorama geral da pandemia no Brasil a partir de indicadores chave para o monitoramento da situação nos estados e regiões do país.

A análise mostra:

— O país apresenta ligeira tendência de queda do número de óbitos, mas o número de casos notificados mantém-se em patamares altos.

— Tendências de aumento do número de casos nos estados de Santa Catarina (SC) e Rio Grande do Sul (RS) e aumento da mortalidade no Amazonas (AM) e Pará (PA), que vinham apresentando redução no número de óbitos. Este padrão tem sido extremamente variável nos estados.

— As maiores taxas de incidência na última semana foram observadas nos estados de Tocantins (TO), Santa Catarina (SC) e Distrito Federal (DF).

O cálculo de incidências semanais de Covid-19 é feito por médias das últimas duas semanas e a incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por média móvel das últimas três semanas.

— Os estados que apresentaram as maiores taxas de mortalidade no período foram Tocantins (TO), Mato Grosso (MT), Mato Grosso do Sul (MS), Goiás (GO) e Distrito Federal (DF), colocando em estado de alerta toda a região Centro- Oeste e alguns estados limítrofes.

— A letalidade da doença permanece alta no Rio de Janeiro e aumentou consideravelmente em Goiás,  o que pode indicar falhas na atenção primária e vigilância epidemiológica nesses estados.

Calcula-se a letalidade dividindo o número de óbitos pelo número de casos de Covid-19.

— Redução da disponibilidade de leitos no Amazonas e sobrecarga do sistema hospitalar nos estados de Goiás e  Rio de Janeiro. São situações de alerta, preocupantes.  A cidade do Rio de Janeiro encontra-se novamente na zona crítica, com 82% dos seus leitos de UTI Covid-19 ocupados.

O indicador de disponibilidade de leitos de UTI Covid-19 para adultos por 10 mil habitantes considera a totalidade de leitos existentes nos setores público e privado, segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), relativa à estimativa populacional do IBGE para 2019.

A taxa de ocupação de leitos de UTI Covid-19 é dada pelo percentual de leitos ocupados de UTI Covid-19 para adultos, obtidos diretamente dos sites das secretarias estaduais.

A nosso pedido, o médico epidemiologista Heleno Rodrigues Corrêa Filho fez uma análise do momento apontado pelo Boletim Observatório Covid-19 FiocruzEle é professor  e pesquisador colaborador da Universidade de Brasília (UnB)

Leia abaixo o artigo de Heleno:

Quem abriu primeiro e de forma desordenada, adoeceu e matou proporcionalmente muito mais gente em relação à população (número de habitantes).

É o caso do Distrito Federal, cujo governador ignora e faz pouco dos avisos de Saúde Pública e fez contratações que colocaram na cadeia seus funcionários que realizaram compras emergenciais. É uma ratoeira.

Os governadores são chantageados pelo governo federal para abrir a economia sem pagar bônus para que trabalhadores fiquem em casa.

Os correligionários abrem primeiro. Os adversários abrem depois.

No final todos abrem, todos adoecem, e todos morrem. É uma ópera bufa.

Sabiam disso desde o começo e não se importam.

O governo federal sai em campanha inaugurando obras que não fez, dizendo mentiras sobre o prestígio no exterior, e mentindo que o arroz subiu de preço porque miseráveis conseguiram comprar um quilo nos meses do auxílio emergencial. A Covid-19 mata e eles não se importam.

O Ministério Público persegue gestores públicos no varejo.

Deixa intocados os gestores federais fardados que criaram a situação de descontrole ao não padronizar compras e condutas centralizadas no governo federal.

Como queriam que liberassem tudo e o STF autorizou os governadores a fechar, o governo federal diz que a pandemia é culpa dos que fecharam e não dos que abriram.

A mentira é epidêmica com o apoio dos grandes jornais e redes de TV que não desmentem. Querem tudo aberto, inclusive novas covas nos cemitérios.

A única boa notícia é que o limiar de imunidade coletiva aparentemente está perto dos 20 a 30% do total de infectados/contagiados na população.

Mesmo cidades grandes como Manaus e Fortaleza estão recuando no número total de casos novos e com paralisação do aumento do número de mortos.

Isso traz a possibilidade da previsão feitam em artigo de pesquisadores da Universidade do Porto-Portugal em associação com a de Oxford seja confirmada.

Não chegaremos a 70% de contagiados conforme desejam os governantes assassinos, por obra da imunidade da população e da dinâmica do vírus, que muda conforme muda a taxa de infectados, reduzindo a oportunidade de novos casos.

Não mataremos 5% dos 70% infectados por obra da biologia e da imunidade.

Esse resultado provável foi adiantado pelos pesquisadores portugueses e ingleses e pode se confirmar.

O vírus poderá matar menos, apesar de que governantes não estão nem aí [1, 2].

Referências:

  1. Aguas R, Corder RM, King JG, Goncalves G, Ferreira MU, M. Gomes MG. Herd immunity thresholds for SARS-CoV-2 estimated from unfolding epidemics. medRxiv [Internet]. 2020:[2020.07.23.20160762 p.]. Available from: https://www.medrxiv.org/content/medrxiv/early/2020/07/24/2020.07.23.20160762.full.pdf.
  2. Almeida Filho Nd. Modelagem da pandemia Covid-19 como objeto complexo (notas samajianas). Estudos Avançados, . 2020;34(99):97-117.