Pesquisa revela que saúde pública é a principal preocupação dos eleitores
No Sudeste, 28% da população diz que o problema que mais afeta a vida é a saúde, 31% no Norte e Centro-Oeste, 35% no Nordeste e 38% no Sul. Os mais velhos são os mais preocupados: 44% entre os que têm 60 anos ou mais. Na população de menor renda, 38% veem a saúde como o principal problema contra 20% entre os que ganham mais, segundo uma pesquisa do Instituto Datafolha com 2.126 pessoas em 134 municípios, realizada nos dias 6 a 10 de junho, que mostrou que a principal preocupação dos eleitores é com a saúde pública.
No início dos anos 90, a expectativa de vida era de 66,9 anos. Hoje passa de 74. A vitória da longevidade, a perspectiva de viver mais, no entanto, nos trouxe um novo problema. O perfil das enfermidades que mais afligem os brasileiros mudou. São as doenças crônicas mais comuns em idosos e o tratamento especializado para elas é o maior gargalo do sistema de saúde.
“Diminuímos a importância de morrer de doenças infectocontagiosas e começamos a morrer de doenças crônico-degenerativas como hipertensão e diabetes, e isto muda o padrão assistencial”, comenta Gonzalo Vecina, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
As doenças infecciosas no Brasil tiveram grande queda. Em 1990, por exemplo, foram confirmados 61.435 casos de sarampo no Brasil. Em 2011, apenas 43. No mesmo período cresceram as doenças crônicas. A taxa de mortalidade por diabetes saltou de 12,8 por cem mil habitantes para 30,1 e a do câncer passou de 56,1 para 94,4 mortes por cem mil habitantes em 2011.
O Brasil mudou, as doenças principais são outras, mas a estrutura do atendimento, segundo Mário Scheffer, professor de medicina preventiva da USP, não acompanhou a nova realidade: “Nem o sistema público e muito menos os planos de saúde estão adequados para atender essa população cada vez maior de idosos. Cerca de 70% dos leitos hospitalares, da capacidade instalada de hospitais, é do setor privado. O SUS não tem serviços próprios suficientes para atender essa demanda”, afirma Scheffer.
O gasto per capita com ações e serviços públicos de saúde aumentou 340% de 2000 a 2012. Ele representa 4,2% do PIB, mais que o vizinho Chile, com 3,5%, país que não tem um SUS, um sistema gratuito para todos. Mas quando a comparação é com países que têm sistemas parecidos com o brasileiro, vemos que o nosso gasto ainda é pequeno. Na Espanha é 7,1% e no Reino Unido, 8% do PIB. Nossos hospitais mal conseguem atender as emergências. Em Joinville, Santa Catarina, só na área de ortopedia há 24 mil pacientes esperando por uma consulta e 3.700 estão na fila de cirurgia.
O maior hospital da cidade, o São José, que é municipal, tinha 25 leitos de ortopedia em 2007 e, em 7 anos, ganhou só mais três. Em Santa Rita, na Paraíba, nós vamos mostrar o funcionamento de um programa nacional criado em 1994, vinte anos atrás, exatamente para mudar esse modelo de saúde em crise, muito concentrado em atendimento de emergência em hospitais. É o programa Saúde da Família.
A estratégia do programa é melhorar a qualidade de vida e prevenir doenças. Mais de 200 mil agentes comunitários de saúde fazem o acompanhamento rotineiro das famílias que estão no programa – 58% da população brasileira. Trinta e cinco mil equipes médicas atendem nas Unidades Básicas de Saúde e, quando necessário, visitam pacientes, como José Marinho, que teve um derrame. Já há estudos que comprovam a queda da taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares nos municípios atendidos pelo Saúde da Família.
Doutor Edacyr faz parte do programa Mais Médicos, criado em julho de 2013 e que já contratou 14.400 profissionais, entre eles 11.400 cubanos. Ele acha que ainda tem muita coisa para ser feita: “Nós temos dificuldade na infraestrutura mínima para que o médico possa ter mais tranquilidade para trabalhar. Essa infraestrutura é uma equipe multiprofissional e também os exames complementares que às vezes são necessários ao diagnóstico e também ao tratamento do paciente posteriormente”, diz o médico.
Aqui começa um futuro de mais saúde e menos doença: no aleitamento materno. “É muito importante para eles o leite materno”, diz Marilene de Araújo Alves Monteiro.
Em 1990 a mortalidade infantil da Paraíba, por exemplo, era de 81,9 por mil bebês nascidos vivos. Cerca do dobro da nacional, 47,1. Com a ajuda de bancos de leite, 21 anos depois o estado atingiu a taxa de 17,5 e se aproximou da média do país, que também caiu muito. Passou a ser de 15,3 por mil bebês nascidos vivos.
“Estudos comprovam que as pessoas que foram amamentadas com maior tempo de duração e com exclusividade maior vão adoecer menos. O envelhecimento vai ser menos prejudicial para principalmente com relação às doenças crônicas”, afirma a diretora do banco de leite Anita Cabral, Thaise Ribeiro.
Fonte: Jornal Nacional