Plano de saúde ignora usuário

Diante dos baixos valores recebidos, médicos recusam as operadoras, como a Geap. Os clientes que pagam pelo serviço saem no prejuízo

Conseguir um atendimento de qualidade está cada dia mais difícil para os usuários de planos de saúde. Agora, a reclamação é contra o descredenciamento em massa dos médicos, que se recusam a atender pelas operadoras diante da baixa remuneração e de atrasos constantes nos pagamentos.

Em Brasília, beneficiários da Fundação de Seguridade Social (Geap) afirmam que a situação é crítica- são tantos os profissionais de saúde que se desligaram do plano que conseguir marcar uma simples consulta em deterAn especialidades translèrmou-se em num façanha.

No Rio de Janeiro a situação é semelhante. conforme relato de Ada Pires, 24 anos. Ela precisou fazer uma cirurgia no ombro. Além de o seu ortopedista ter pedido o descredenciamento da operadora, devido aos constantes atrasos no ressarcimento das consultas, simplesmente não havia fornecedores conveniados à Geap para os materiais adequados ao procedimento.

Embora a administradora, que atende mais de 700 mil contratos, negue a existencia de qualquer problema na prestação do serviço, representantes da categoria confirmam os transtornos.

Em uma tentativa de combater o problema, o governo chegou a autorizar o reembolso de servidores que optarem por usar planos privados de livre escolha, em detrimento da Geap ou do respectivo plano conveniado aos órgãos públicos. As queixas, no entanto, são nacionais e generalizadas entre as diversas operadoras que atuam no mercado. Tanto que a categoria médica, cujo dia foi comemorado ontem, planeja uma manifestação, em Brasília, marcada para 26 de outubro. Entre as reivindicações estão pagamentos justos e o fim de ingerências do plano no atendimento ao cliente, classificadas como antiéticas.

Negociações

A mobilização envolve ainda especialidades distribuídas em diversos estados. Os anestesistas de São Paulo, por exemplo, prometem paralisar os atendimentos por plano de saúde na quinta-feira, em ato de advertencia por melhorias na remuneração. Se as negociações não avançarem, os anestesistas podem parar por tempo indeterminado. Além deles, ginecologistas e pediatras também estão mobilizados em virtude da insatisfação. No ano passado, os especialistas no atendimento a crianças chegaram a suspender os atendimentos em Brasília, atitude que pode vir a se repetir em outros estados.

O vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Aloísio Tibiriçá Miranda, afirma que, em média, os médicos recebem R$35 por consulta feita pelos planos de saúde e defende que essa quantia precisa aumentar para, no mínimo, o dobro. “Queremos que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) cumpra o seu papel como intermediadora do debate”, avisou. Ele afirma ainda que os problemas relatados em relação à Geap são comuns. “A rede é uma das mais insuficientes entre todas as operadoras. Além disso, é fato que a baixa remuneração tem levado muitos médicos a se descredenciarem.” Em sua defesa, a regional da operadora no Distrito Federal alegou não ter recebido nenhum tipo de reclamação de beneficiários em relação a descredenciamentos por falta de pagamento.

Quase todas

“O que ocorre, eventualmente, são descredenciamentos específicos quando não há acordo entre a Geap e determinados profissionais que solicitam reajustes muito elevados, acima do mercado. Porém, não vislumbrou-se nenhum movimento por parte dos médicos até então, uma vez que a fundação não apresenta problemas de pagamentos à rede credenciada”, informou a empresa, em nota. Mas o presidente do Sindicato dos Médicos de Brasília, Gutenberg Fialho, observa que não tem sido fácil para os usuários conseguirem atendimento.

Fialho afirma que os problemas não envolvem apenas a Geap e são, na verdade, generalizados entre quase todas as operadoras. “Além de pagarem pouco, pagam atrasados. Pelo plano, o médico recebe menos de R$40 por consulta. Já no atendimento particular, o valor sobe para R$ 100 a R$200″, criticou. Um dos problemas colaterais, também recorrente, é a prática de passar à frente da fila de espera os pacientes que buscam atendimento particular. Para coibir isso, a ANS já anunciou, para as próximas semanas, que estabelecerá prazos máximos para a marcação de consultas para todos os clientes. E fato que a baixa remuneração tem levado muitos médicos a se descredenciarem”

Aloisio Tibiriçd Miranda, vice-presidente do Conselho Federal de Medicina
Fonte: Correio Brazilense (19/10/2010)