Presidenta do Cebes analisa a pandemia de covid-19 nesse início de 2022

A presidenta do Cebes Lúcia Souto conversou na manhã dessa segunda-feira (10) com a jornalista Marilu Cabañas, do jornal Brasil Atual, sobre o cenário da pandemia de covid-19 no início do ano de 2022. A médica sanitarista falou sobre a aprovação da Anvisa para produção nacional de matéria-prima para fabricação de vacinas em território nacional, o apagão de dados da pandemia no Ministério da Saúde, a suspensão do carnaval de rua, a variante ômicron, dentre outros assuntos.

Na última sexta-feira (7), a Anvisa autorizou a Fiocruz a usar o Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) para fabricação da vacina contra a covid-19, que vem sendo produzido pela instituição desde julho de 2021, quando assinou contrato de transferência de tecnologia com a parceira AstraZeneca. As primeiras doses de vacina com IFA nacional deverão ser entregues já em fevereiro. Lúcia Souto diz que produção nacional da IFA para os imunizantes é uma demonstração de compromisso da instituição centenária “com a vida e saúde da população brasileira“. “Há um tempo atrás, a gente demorava 10 anos para fazer o que agora fizemos em menos de um ano”, aponta Lúcia. Segundo a pesquisadora, enquanto em 2021 a Fiocruz entregou cerca de 153 milhões de doses, a previsão para este ano é de 120 milhões de doses produzidas com o IFA nacional – com a possibilidade de alcançar até 300 milhões de unidades fabricadas.

Isso é algo realmente extraordinário. O Brasil adquire uma soberania e uma segurança sanitária importantíssima. É um dos poucos países do mundo que está nessa condição de produzir e não ficar dependendo da importação de insumos para poder fabricar a vacina“, disse Lúcia. Com a aprovação da Anvisa, a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, afirmou que a partir de agora o Brasil tem condições de exportar ou doar o imunizante contra a covid-19, o que pode ajudar a acelerar o controle da pandemia no mundo. Hoje, o continente africano, por exemplo, em apenas 9% de sua população imunizada.

Também na sexta-feira, o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, divulgou orientações para que todos integrantes da Força tomem a vacina contra a covid-19 e que não divulguem fake news sobre a pandemia. Para Lúcia esse posicionamento é fruto da pressão da sociedade pró-imunizantes. Ela diz que isso é uma derrota para o atual presidente da República Jair Bolsonaro, que continua a trabalhar para atrapalhar o combate à pandemia. “O presidente está cada vez mais isolado“.

Além das fake news presidenciais, o Brasil enfrenta um apagão de dados sobre a pandemia da covid-19 desde o ataque ao banco de dados do Ministério da Saúde. O ataque cibernético comprometeu alguns sistemas, como o e-SUS Notifica, o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI), o ConecteSUS e funcionalidades como a emissão do Certificado Nacional de Vacinação Covid-19 e da Carteira Nacional de Vacinação Digital, que ficaram temporariamente indisponíveis. Hoje, o balanço diário nacional de casos está deficitário. “Se não fossem as esferas estaduais e municipais (no combate à pandemia), o Brasil estaria numa situação caótica”.

Lúcia também elogiou a decisão de algumas prefeituras, como a do Rio de Janeiro, de cancelar o carnaval de rua esse ano. “Num contexto de pandemia, a saída é coletiva”. A médica sanitarista também falou sobre a importância do passaporte sanitário, da política de testagem como forma de orientar melhor o enfrentamento à pandemia e a variante ômicron.

Veja a conversa na íntegra a seguir: