Prevenir é possível
Correio Braziliense – 1/7/2012
Para o geriatra Adriano Roberto Tarifa Vicente, doutorando em epidemiologia pela Fiocruz/CPQRR/Belo Horizonte (MG), um problema importante, no que se refere à saúde pública, é que a depressão no idoso é uma doença subdiagnosticada. Os motivos são muitos: o estado do paciente (dificuldade de comunicação, piora cognitiva), estado físico (condições médicas, depressão de início tardio), além de problemas inerentes ao sistema de saúde (incapacidade de os profissionais detectarem depressão em hospitais não psiquiátricos).
“Sabemos também que o nível socioeconômico é um fator de risco e estima-se que países subdesenvolvidos são portadores de maior grau de depressão, porém não diagnosticado e não tratado”, afirma. Adriano faz parte de um grupo da Fiocruz que realiza um estudo inédito sobre o consumo de antidepressivos entre idosos. Ainda no início, as análises têm dados preliminares oriundos do Projeto Bambuí/MG – que entrevistou 1.606 idosos da cidade de mesmo nome – e do Inquérito Populacional de Belo Horizonte. Eles mostram que o consumo de antidepressivos entre idosos é de 7,04% em Bambuí (9,33% em mulheres e 3,59% em homens) e 4,7% em Belo Horizonte (6,1% em mulheres e 2,7% em homens).
A prevenção da doença é um assunto que causa muita polêmica entre os médicos. Para o geriatra Renato Maia, mesmo que existam as interações genéticas envolvidas nos casos de depressão, um dos primeiros passos para o idoso evitá-la é discutir e entender o envelhecimento. “Ele não é um clube que só aceita pessoas doentes. A resiliência é um mecanismo muito discutido hoje na gerontologia. Essa é uma capacidade que podemos adquirir na vida, para aprendermos a lidar com as perdas”, observa. E, caso o mal se instale, tratá-lo da forma correta. “A depressão é considerada a doença mais incapacitante do mundo e deve ser levada muito a sério”, completa.
Olhar para o mundo sempre buscando seu lado mais positivo é a maneira como a servidora pública Leir de Souza, 69 anos, obtém forças para não deixar que a velhice a impeça de fazer o que tem vontade. Ao contrário, ela afirma que hoje, finalmente, tem tempo e dinheiro para conhecer tudo o que lhe foi privado na juventude. “Meu marido não me deixava fazer nada. Quando ele morreu, a primeira coisa que fiz foi trocar meu carro por um zero, pintar o cabelo, dei uma reforma geral no meu visual. Hoje, me sinto maravilhosamente bem”, conta.
Leir sabe que a depressão é um monstro que está à espreita, mas se esforça para manter a mente ocupada. “Trabalho muito, viajo sempre, faço as festas do meu prédio, toco violão. O idoso não pode se deixar totalmente dependente, sob o risco de os parentes o virem como um problema”, acredita.
Características da doença Durante sua palestra no último Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, em maio, o psiquiatra Jerson Laks apresentou alguns dados sobre a depressão e suas manifestações na terceira idade. Principais categorias de sintomas depressivos: Afetivos: tristeza, choro, perda de interesse e prazer Vegetativos: sono, fadiga, falta de libido, alterações no apetite e no peso Motores: inibição/retardo dos movimentos, agitação/inquietação constante Sociais: apatia, isolamento e incapacitação Cognitivos: desesperança, desamparo, pessimismo, ideias de culpa e suicídio Ansiedade: manifestações psíquicas e somáticas Irritabilidade: hostilidade e agressividade Fatores de risco para associação entre depressão e doenças clínicas em idosos:
Ser do sexo feminino
Não ser casado(a)
Morar só
Episódios depressivos prévios
Formas graves de doenças clínicas