Problemas de saúde tendem a aumentar com aquecimento
Do Estadão
Rascunho do relatório que vazou na internet aponta que, para a saúde humana, até meados do século, é de se esperar uma piora em condições já existentes, além de um aumento de problemas de saúde em geral, especialmente nos países em desenvolvimento
YOKOHAMA – Algumas das mais temidas estimativas para as mudanças climáticas, de que elas espalhariam para regiões mais frias doenças típicas das áreas tropicais, estão longe de encontrar confirmação em modelagens climáticas, mas problemas de saúde já existentes tendem a ser exacerbados com o clima mais quente. A previsão, dita com muito alto grau de confiança, está no novo relatório do IPCC, o painel de cientistas da ONU, que divulga uma análise sobre impactos, vulnerabilidades e adaptação no próximo domingo à noite (horário de Brasília), 30.
Cientistas e representantes de governos estão reunidos nesta semana em Yokohama, no Japão, para discutir os termos finais do Sumário para Formuladores de Políticas. É a única parte não técnica do relatório na qual os governos podem palpitar. Como é o sumário que dá o tom da mensagem que vai ser passada, ele tende a ser discutido palavra por palavra.
Um rascunho deste documento, que vazou na internet há alguns meses, aponta que, para a saúde humana, até meados do século, é de se esperar uma piora em condições já existentes, além de um aumento de problemas de saúde em geral, especialmente nos países em desenvolvimento, na comparação com um futuro em que não houvesse mudanças climáticas.
O texto ressalta maior probabilidade de ferimentos, doenças e morte devido a ondas de calor mais intensas e incêndios mais frequentes; e de maior disseminação de doenças transmitidas por água ou alimentos contaminados – ambas as previsões apresentadas com muito alta confiança. Os cientistas falam também de aumento de casos de malnutrição resultante da diminuição da produção alimentar em países mais pobres (alta confiança).
Já em relação às doenças transmitidas por vetores, como mosquitos (malária, febre amarela), a confiança de sua ampliação é apenas média. “É muito difícil em modelos climáticos globais prever o comportamento de uma doença. A forma como a malária ocorre na África, por exemplo, é diferente de como ocorre na América do Sul. Os mosquitos são diferentes”, explica o pesquisador brasileiro Ulisses Confalonieri, membro do IPCC há 17 anos. Neste relatório ele atuou como revisor do capítulo de saúde.
Trabalho braçal
Para ele, merece destaque a menção que aparece no relatório aos riscos da exposição ocupacional. “É um subtema pouco desenvolvido antes que nesse relatório aparece melhor — os riscos que o trabalhador braçal, ao ar livre, corre. Os estudos projetam vários problemas. Não dá para trabalhar o dia inteiro debaixo de 40°C. Os trabalhos projetam necessidade de fazer intervalos no meio do dia, nas horas mais quentes”, diz.
De acordo com o rascunho que vazou na internet, há risco de perda da capacidade de trabalho e redução da produtividade.