Propaganda do ‘talvez’ em cigarros é criticada por ONGs

Johanna Nublat/ Folha de São Paulo

Entidades do Brasil e dos EUA pedem fim de campanha mundial de Marlboro

Imagens de jovens com guitarras e skates fazem parte da peça; Philip Morris diz que está de acordo com a legislação

Um talvez não é convidado. Um talvez nunca atingiu o topo. Talvez nunca escreveu uma música. É hora de explorar. Não mais talvez.

As frases integram a campanha publicitária do cigarro Marlboro difundida em dezenas de países –inclusive no Brasil– que virou alvo de questionamentos por seu potencial apelo sobre jovens.

Em relatório que será divulgado hoje no Brasil em parceria com a ACT (Aliança de Controle do Tabagismo), a entidade americana Campaign for Tobacco-Free Kids critica o que vê como a sedução de jovens para o fumo.

No documento, as duas ONGs pedem que a Philip Morris, fabricante da marca, encerre, no mundo, a campanha Be Marlboro, com suas imagens de jovens com guitarras, skates, motos e se beijando.

“A campanha associa o consumo do tabaco à entrada no mundo adulto: ser independente, se apaixonar e ser incluído no grupo. E induz a pensar que, se não tomar a atitude [de fumar], será excluído de tudo o que o jovem quer”, diz Mônica Andreis, da ACT.

Segundo o relatório, a campanha é uma tentativa de renovar a imagem da marca entre jovens, em substituição ao famoso caubói da Marlboro.

Além da crítica, o documento faz o apelo para que os governos proíbam a publicidade de tabaco de forma ampla, para reduzir a iniciação de jovens no tabagismo.

No Brasil, o relatório terá ainda uma carta aberta à presidente Dilma Rousseff, com uma cobrançapara que o governo regulamente a lei federal de 2011 que baniu os fumódromos e restringiu a propaganda de cigarros –autorizando só a exposição dos maços.

Prometido pelo ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha para março de 2012, o detalhamento da lei –com a definição de sanções e fiscalização– nunca foi publicado.

No Brasil, a campanha da Marlboro teve uma de suas peças suspensas em 2013 pelo Conar, que viu “má influência” sobre as crianças.

Apesar disso e de a lei de 2011 ter banido cartazes dos pontos de venda do cigarro, a campanha pode ser vista em padarias e mercados.

Em 2013, um decreto vetou o uso das peças lançadas pela campanha na Alemanha.

PARA ADULTOS

A Philip Morris não informou quando a campanha citada teve início no Brasil ou se ela ainda é usada pela empresa. Disse que “considera que ela está de acordo com a legislação” e que a lei federal “carece de regulamentação”.

Disse ainda que a campanha é voltada “exclusivamente” para adultos fumantes.

Classificou o veto alemão como “desprovido de fundamento legal” e disse que conseguiu a liberação do uso das palavras “ser” e “talvez” em novas campanhas lá.

O Ministério da Saúde não respondeu sobre o atraso na regulamentação da lei.