Quebra de paradigma no Hospital de Base do Distrito Federal

Correio Braziliense – 02/01/2012

Diretor-geral do Hospital de Base do Distrito Federal

O Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) foi uma das 11 unidades do país que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) escolhida para fazer parte do S.O.S Emergências. A ação do Ministério da Saúde, lançada no mês passado pela presidente Dilma Rousseff e pelo ministro Alexandre Padilha, tem o propósito de humanizar e tornar mais célere o atendimento e o acolhimento dos pacientes, além de melhorar a gestão das emergências.

A proposta não é apenas inovadora, mas muito bem-vinda. Primeiro hospital do Distrito Federal, com os mesmos 51 anos de Brasília, o HBDF se tornou referência nas cinco décadas de funcionamento. O problema é que, por ser o único hospital a contar com especialidades de alta complexidade da região, o HBDF é hoje a principal unidade não só para os moradores do DF, mas também para a população de diversos estados do país.

Diariamente, chegam ao Hospital de Base em busca de atendimento pacientes de Goiás, Minas Gerais, Bahia, Tocantins, Piauí e até mesmo dos longínquos Pará e Amazonas. Muitos deles poderiam resolver os problemas em um posto de saúde ou em uma unidade de pronto atendimento (UPA), mas chegam ao hospital ao lado de doentes críticos que necessitam de série de cuidados.

O resultado: demanda muito maior do que o hospital pode suportar. Apenas pelo pronto-socorro passam mensalmente cerca de 12 mil pacientes. Quem precisa ficar mais tempo no HBDF tem que disputar um dos 94 leitos da área com as inúmeras pessoas que precisam de internação diariamente.

Nesse sentido, é louvável a iniciativa do Ministério da Saúde em conjunto com a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, no caso de Brasília. Nos últimos dias, comandados pelo secretário de Saúde do DF, Rafael Barbosa, que tem apoiado fortemente a ação, diretores e técnicos do hospital e da Secretaria de Saúde e gestores do Ministério da Saúde fizeram verdadeira radiografia da emergência e demais áreas do HBDF. Mapearam problemas, gargalos, rotinas, queixas dos profissionais, fluxo de atendimento, enfim, uma série de questões.

O resultado foi detalhado no plano de ação que começará a ser colocado em prática na primeira semana de janeiro. Entre as mudanças, estão as relativas ao primeiro atendimento dos pacientes. Quem chegar à emergência do Hospital de Base não mais será atendido por médicos de diferentes especialidades, como atualmente.

O atendimento da população com quadros graves de trauma e doenças neurocardiovasculares será feito por cirurgiões-gerais e médicos neurologistas e cardiologistas. Eles farão o correto encaminhamento — consulta com especialista (na área cirúrgica), internação, transferência para outro hospital ou mesmo alta.

A medida dará celeridade ao atendimento na emergência e permitirá que os médicos especialistas tenham mais tempo para quem realmente demanda mais cuidados. Além disso, o plano de ação estima redução de 50% a cada 30 dias no tempo de permanência dos pacientes na emergência até que se chegue ao que é preconizado como o ideal pelos serviços de saúde em todo o mundo: 24 horas. Hoje, este período varia entre 10 e 12 dias em média.

Além de um atendimento mais rápido e mais bem organizado na porta de entrada da emergência, o Hospital de Base do Distrito Federal disponibilizará 80 leitos de retaguarda para os pacientes que precisarem de internação em uma das clínicas da unidade.

A situação não vai melhorar de um dia para o outro. É preciso o comprometimento de todos os servidores e colaboradores do HBDF para que de fato as ações propostas deem resultado. Apesar de ousada, a mudança é possível. Com muito trabalho, estamos diante da possibilidade de mudar radicalmente o paradigma nos processos e procedimentos. E, o que é excelente, mudar para muito melhor para todos, população, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, enfim, os que se dedicam a salvar vidas no maior hospital do Distrito Federal.

O problema da saúde pública no Brasil é grave e extenso. As mazelas vêm de décadas e têm as origens mais diversas. Não é o S.O.S Emergências que vai resolvê-las e trazer o SUS para o patamar que imaginamos merecer. Mas, com certeza, a ação representa mudança que, se bem executada, poderá servir de passo inicial para que, em um futuro não tão distante, as emergências dos principais hospitais públicos do país sejam melhores.