Rede CoVida lança o primeiro volume de e-book sobre a pandemia de covid-19
A “Rede CoVida – Ciência, Informação e Solidariedade” é um projeto de colaboração científica e multidisciplinar focado na pandemia de Covid-19. É uma iniciativa que surgiu em março de 2020 a partir da união entre o Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) e a Universidade Federal da Bahia (Ufba), diante da maior crise de sanitária global dos últimos 100 anos.
A Rede é uma resposta de pesquisadores e profissionais de comunicação que visam enfrentar a pandemia de Covid-19, apoiando a tomada de decisões dos gestores e oferecendo informações científicas confiáveis a partir do monitoramento de casos, da modelagem matemática e dos saberes reunidos por cientistas de diversos campos de saberes. Sua atuação compreende as seguintes áreas: Monitoramento da epidemia, Construir modelos matemáticos em tempo real, Sintetizar as evidências científicas e Divulgação de evidências científicas.
Um livro aberto, “sem fim” e que se auto-atualiza. Foi desta forma que organizadores e convidados presentes no lançamento do primeiro volume do e-book da Rede CoVida caracterizaram a publicação em evento online realizado nesta quinta-feira (17). Intitulado “Construção de Conhecimento no curso da pandemia de Covid-19: aspectos biomédicos, clínico-assistenciais, epidemiológicos e sociais”, o livro reúne diversos artigos elaborados por pesquisadores com aspectos diferentes da pandemia da Covid-19. É possível acessar os capítulos já lançados do e-book e os próximos através da aba Publicações do site da Rede CoVida ou neste link: https://redecovida.org/e-books/
Estiveram presentes no evento, o coordenador do Cidacs/Fiocruz Bahia e idealizador da Rede CoVida, Maurício Barreto; a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade; e o reitor da Universidade Federal da Bahia, João Carlos Salles. Além deles, o pós-doutorando Elzo Pereira Pinto Júnior, do Cidacs, e os pesquisadores Manoel Barral Netto da Fiocruz Bahia e Érika Aragão da Ufba – organizadores do livro – também participaram do lançamento, que ainda contou com as presenças da diretora da Edufba, Flávia Rosa, e do professor José Castilhos (Unesp).
O espírito colaborativo da Rede CoVida para lidar de forma eficaz com todo o conhecimento construído durante a pandemia se reflete no e-book, de acordo com Maurício Barreto. Ele explica que o livro é aberto, gratuito, terá dezenas de capítulos integrados ou revistados. Segundo Érika Aragão, “o livro sistematizou na forma de textos acadêmicos um conjunto de conhecimentos sobre aspetos biomédicos, clínicos e psicossociais” sobre a pandemia.
Para o reitor da UFBA, João Carlos Salles, é preciso destacar que o livro é um processo que dá conta de momentos particulares. “Estamos construindo nossa narrativa particular da verdade. Novos olhares vão sendo agregados”, destaca.
A velocidade e volume de informações que circulam nos diversos canais de comunicação são dois dos grandes desafios para os pesquisadores durante a pandemia de Covid-19. Nísia Trindade lembra que, muitas vezes, resultados de pesquisa estão nos jornais antes mesmo de serem avaliados por pares.
A presidente da Fiocruz destacou também a interdisciplinaridade da Rede expressa também no e-book. “É fundamental neste momento, diante de um desafio dessa magnitude, pensar a pandemia como um fenômeno múltiplo, não só biológico, mas social, contando com conhecimentos do campo biomédico, da saúde coletiva e das ciências sociais”.
Érika Aragão lembrou das vantagens do trabalho em rede e colaborativo para alcançar vários objetivos. “Um deles é fazer a coisa de forma mais rápida. Escrevemos capítulos de livros com pessoas que não conhecemos presencialmente”, reconhece.
E-book em “tempo real” acompanha dinâmica da pandemia
Durante a apresentação dos processos de conhecimento sobre a Covid-19 na Rede CoVida, Elzo Júnior explicou o quão complexo tem sido o trabalho de lidar com a quantidade e qualidade das evidências científicas produzidas durante a pandemia. “Vemos artigos revisados por pares, publicados em boas revistas, mas, pelo processo de publicação muito rápida, com os pré-prints, passaram questões metodológicas graves”, ressalta o pesquisador que lembrou de artigos que precisaram fazer retratações. Os artigos pré-prints são aqueles que passaram por breve avaliação por outros pesquisadores para agilizar sua disseminação, mas ainda são revisados pelo sistema de avaliação por pares antes da publicação final.
“A produção de artigos veio em onda. Começou com as modelagens, depois diagnóstico e agora sobre saúde mental. É impossível que qualquer pessoa na área de saúde possa acompanhar esta produção” analisa Manoel Barral Netto. Para o pesquisador, o e-book tem função didática e é uma memória importante sobre o conhecimento gerado na pandemia. Contudo, ele pondera: “É preciso ter cautela na interpretação dos resultados”.
Neste sentido, o e-book tem caráter inovador porque não segue o modelo de livros tradicionais. “Ele teria uma vida muito curta”, analisa o pesquisador da Fiocruz. A diretora da Edufba, Flávia Rosa, também refletiu sobre o desafio de fazer a edição de um livro tão diferente. “Foi um livro escrito, discutido e publicado em tempo real. A edição foi de forma participativa, capítulos independentes e sempre pensando no leitor”.
Conferência destaca a importância do livro para a vida em sociedade
O lançamento do e-book da Rede CoVida ainda contou com a conferência do professor da Unesp, José Castilho de Marques Neto. Segundo ele, um dos desafios atuais do livro acadêmico situa-se em profundas transformações tecnológicas e a necessária convivência com a edição tradicional.
Doutor em Filosofia e com longa carreira no setor editorial acadêmico – ele foi diretor da Editora Unesp por 27 anos e presidente da Associação Brasileira de Editoras Universitárias (ABEU) e da Associação Brasileira de Editoras Universitárias da América Latina e Caribe por três mandatos – o professor refletiu sobre a importância do livro acadêmico na construção de sujeitos e apontou os riscos de uma sociedade que não lê.
“Democracias complexas, inclusivas, que buscam equidade para construção de comunidades de sujeitos, estão em atrito e em disputa com os que querem preservar o velho mundo da submissão e da desigualdade”, aponta o professor que continua: “O desafio das editoras é civilizatório e da liberdade. São os mesmos desafios do mundo atual: da razão contra a irracionalidade, da imaginação contra o conservadorismo e da civilização contra a barbárie”.
Veja o lançamento na transmissão abaixo:
Acesse os capítulos do livro Construção de Conhecimento no curso da pandemia de Covid-19: aspectos biomédicos, clínico-assistenciais, epidemiológicos e sociais;