Refundação do núcleo Cebes SP

Na quinta-feira,16 de abril, foi realizada a primeira reunião de refundação do núcleo Cebes em São Paulo. A reunião aconteceu na Faculdade de Saúde Pública da USP, sala Reinaldo Ramos, no Depto. de Práticas. Abaixo veja um depoimento de Ricardo Menezes sobre o núcleo São Paulo, ainda quando o Cebes era presidido pelo saudoso David Capistrano.

 

Ricardo Menezes

Fiquei muito feliz ao ler as mensagens tratando da refundação – no sentido literal do termo, não como categoria simbólica – do Núcleo do CEBES de São Paulo.

Ainda sob a impressão me causada pela 19ª Plenária de Conselhos, de Entidades e de Movimentos Populares, realizada nos dias 13 e 14 de abril de 2015, organizada pelo Conselho Nacional de Saúde em Brasília, a título de contribuir na mobilização para a 15ª Conferência Nacional de Saúde – 15ª CNS, li aquelas mensagens. Me senti mais acompanhado política e ideologicamente no que diz respeito à perspectiva de luta social e política, *em torno de propostas concretas*, que apontem um novo caminho a trilhar, o qual, a um só tempo, preserve o direito social à saúde e retome iniciativas que, de fato, destinem-se a (tentar) implantar um Sistema de Saúde *nacional,* público e universal, no Brasil.

Lembrei-me da última diretoria do CEBES de São Paulo de que tenho notícias, da qual participei, como tesoureiro, nos anos 1982-1983.

Registro da composição desta diretoria encontra-se no livro A Saúde nas Fábricas, de Giovanni Berlinguer, o qual lançamos em São Paulo, com a presença do autor, na sede da Associação Paulista de Medicina, em 17 de outubro de 1983. Era, segundo ficou para historiografia em face do contido nesse livro, assim composta:
Presidente: David Capistrano da Costa Filho

1º Vice-Presidente: Paulo Capel Narvai

2º Vice-Presidente: José Manuel Bouzon Ferradans

Secretário: Cid Roberto Bertozzo Pimentel

2º Secretário: Paulo de Tarso Puccini

Tesoureiro: Lídia Silveira

Suplente: Ricardo Fernandes de Menezes
Esta diretoria do CEBES de São Paulo, embora desde 1979 a direção nacional do CEBES já estivesse sediada no Rio de Janeiro, cumpriu algumas tarefas administrativas e iniciativas políticas de transição, digamos assim, relacionadas à mudança da direção nacional de São Paulo para a Cidade Maravilhosa.

A primeira delas foi levantar recursos para saldar dívidas. Em uma das primeiras, senão a inicial mesmo, David solicitou que levantássemos o quanto precisaríamos para saldá-las e se prontificou a falar com quem poderia se solidarizar com a entidade, ajudando-a financeiramente. E assim foi. Em 1983 fui ao Rio de Janeiro informar ao presidente nacional do CEBES, José Gomes Temporão, sobre dívidas que havíamos quitado.

Encontramo-nos no período da tarde, no prédio da Avenida Brasil da Fundação Oswaldo Cruz, e a noite participei de reunião, na sede da entidade, com a direção nacional.

No plano político merecem ser destacadas duas iniciativas. A primeira foi o empenho em terminar a tradução da obra exemplar, acima citada, A Saúde nas Fábricas. A segunda foi a mais marcante do ponto de vista do CEBES, bem como do movimento sanitário em meio a luta contra a Ditadura Militar.

Passadas as eleições gerais, nas quais voltou-se a sufragar diretamente os governadores dos Estados no processo de “abertura lenta, gradual e segura” do Regime Militar, David ponderou com os demais membros da diretoria que devíamos organizar um encontro, na verdade uma espécie de seminário, especialmente com os companheiros e companheiras do CEBES do Rio de Janeiro, numa dependência da Faculdade de Saúde Pública da USP. E o seminário ocorreu. Por que afirmei que foi marcante? Pelas razões apresentadas pelo David Capistrano na ocasião: insistia ele na necessidade de manter coeso ideologicamente, portanto, manter a potência para lutar por transformações na realidade do País em geral, e na sanitária em particular, o conjunto de intelectuais orgânicos que vinham desde meados dos anos 1970 construindo um pensamento sanitário contra-hegemônico e ampliando sua influência.

O que fez aflorar esta lembrança? Acho que uma certa incapacidade, até agora presente, de nos debruçarmos coletiva e generosamente sobre proposta concreta que preserve o direito social à saúde e aponte um rumo para o impasse a que chegou-se em relação ao Sistema de Saúde *nacional,* público e universal, inscrito na Constituição Federal com a denominação de Sistema Único de Saúde – SUS. Ou seja: uma proposta concreta de um *aparato sanitário estatal nacional* que consiga ser entendida e encampada por forças sociais e políticas potentes, inclusive parcelas ponderáveis de pessoas que vierem a participar de Conferências Municipais, Estaduais e na Nacional, no processo de realização da 15ª CNS.

A luta é duríssima! Por isso parabéns aos companheiros e às companheiras que estão à frente da refundação do Núcleo do CEBES de São Paulo!

Um abraço

Ricardo Menezes

 

Abaixo uma galeria com as fotos da refundação ocorrida no dia 16/04.