Rio no foco do combate ao crack

Correio Braziliense – 02/02/2012

A fim de evitar erros, o governo fluminense vai estrear o programa federal antidroga em uma cracolândia menos frequentada, na Zona Sul da cidade. O uso de câmeras e o apoio da Força Nacional também são estratégias para blindar a iniciativa

Na posição de primeiro estado a implementar o plano Crack, é Possível Vencer, lançado pela presidente Dilma Rousseff há quase dois meses, o Rio de Janeiro precisará dar o exemplo. Todas as demais unidades da Federação, ávidas para aderir ao programa federal, acompanharão com lupa os passos do município fluminense, que, para não errar, começará por uma cracolândia incômoda, por ficar na Zona Sul, mas não tão povoada. Será no pé do Morro do Santo Amaro, no bairro do Catete, que os agentes de saúde e de assistência iniciarão o trabalho de abordagem dos usuários. Para proteger os profissionais, a Polícia Militar acompanhará a ação, contando ainda com a ajuda da Força Nacional. Apesar disso, qualquer movimento que possa parecer abuso ou truculência está proibido. Operações para prender traficantes ocorrerão de forma isolada a partir de mapeamento com câmeras a serem instaladas no local. O acordo de cooperação entre os governos local e federal deve ser assinado na semana que vem.

Do Ministério da Justiça, sairão até R$ 9 bilhões para a compra das câmeras, do sistema de transmissão de vídeos, das unidades móveis que receberão as imagens e em cursos para treinamento de policiais e operadores do direito. Tais unidades serão vans que ficarão percorrendo não só o pé do Santo Amaro, no Catete, mas também as imediações, no bairro do Flamengo e na Glória, por onde os usuários costumam circular. Em seguida, as imagens relevantes serão repassadas a um centro remoto de investigação. “Além de acompanhar as operações para evitar qualquer tipo de violação de direitos, as câmeras servirão para a identificação de traficantes e, posteriormente, permanecerão nesses espaços urbanos auxiliando a segurança pública”, diz o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Segundo ele, o monitoramento por vídeo possibilitará também a distinção entre usuários e vendedores da droga. Mas o ministro é enfático: “Quem dá o sinal verde é a Saúde, que precisa estar com uma rede preparada”.

Para não repetir o vexame de São Paulo, onde os usuários eram convencidos a se tratar, mas alguns ficavam sem vagas nas unidades de atendimento, o Rio optou pela cracolândia do Catete, que costuma reunir no máximo 50 usuários, segundo a PM fluminense. A grande expectativa era de que a operação começasse pelo Jacarezinho, na Zona Norte, apontada como a versão carioca da cracolândia do Centro da capital paulista. Para se ter ideia, segundo o balanço fechado na semana passada pela Secretaria Municipal de Assistência Social, foram realizados 3.410 acolhimentos na cidade, sendo 1.139 somente no Jacarezinho, que recebeu 18 incursões de março de 2011 até hoje. O número total dos usuários que se mantiveram longe da droga, em tratamento ou abrigados em serviços públicos, porém, não passa de 200. Por isso, sairão recursos dos ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social para a ampliação dos cuidados e também de unidades de acolhimento, onde o paciente possa morar transitoriamente.

O governo não adiantou quais serão os próximos estados a aderirem ao plano nacional Crack, é Possível Vencer. A ideia é fechar com oito ainda neste semestre. São Paulo era o prioritário, ao lado do Rio de Janeiro, mas as negociações não avançaram em função das eleições para as prefeituras paulistanas, lideradas pelos tucanos, que também se apressaram em fazer uma operação independente para descolar da imagem federal qualquer êxito no combate à droga. Além de uma epidemia — conforme admitiu o próprio ministro da Saúde, Alexandre Padilha —, o crack tem contaminado também a política. Qualquer tropeço do Rio não tardará a ser criticado pelos candidatos de oposição ao bloco governista.