Samu precisa de socorro
Correio Braziliense – 28/02/2012
Desde o fim de 2010 sem renovar o contrato de manutenção dos desfibriladores eletrônicos automáticos, serviço de atendimento emergencial da Secretaria de Saúde opera desprovido de um recurso importante para salvar vidas
Conhecido pela eficiência no atendimento emergencial, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu) está passando por dificuldades para socorrer pacientes com problemas de coração. Há mais de um ano, os aparelhos de massagem cardíaca presentes nos veículos de socorro estão parados por falta de bateria. Desde dezembro de 2010, o Samu não tem um contrato de manutenção dos equipamentos, o que inclui a reposição das baterias. Além disso, há o risco de os desfibriladores eletrônicos automáticos pararem de funcionar por falta de pilha de lítio. Por enquanto, ninguém morreu em decorrência da falta desses equipamentos.
Isso significa que os médicos têm menos recursos na hora de atender pacientes com problemas no coração. O massageador, por exemplo, é usado para reverter uma parada cardíaca. Na ausência dessa ferramenta, os atendentes fazem a massagem manual. “Não é considerado um item essencial, mas agiliza, facilita o atendimento”, explica o coordenador do Samu, o médico Rodrigo Caselli. Uma parte dos equipamentos está parada por falta de manutenção, já que técnicos não os analisam há pelo menos um ano, e a outra parte está sem bateria.
O desfibrilador, por sua vez, é utilizado para normalizar a sincronia de movimento das fibras musculares e é considerado fundamental no socorro às cardiopatias. A corporação tem mantido parte desses equipamentos funcionando com pilhas de outros aparelhos e até pedindo ajuda a outras instituições, como o Corpo de Bombeiros. Para um desfribrilador, não há substitutos. “Esse aparelho, sim, é vital na hora do socorro. Estamos em uma situação de alerta. Uma hora, esse recurso não estará mais disponível”, adverte Caselli.
A fibrilação muscular, combatida por esse instrumento, ocorre quando cada fibra mexe individualmente, impedindo a contração dos músculos do coração. Ela é classificada como um dos tipos de arritmia, considerada um dos principais motivos de parada cardíaca. De acordo com o banco de dados do Sistema Único de Saúde (Datasus), 80 pessoas morreram em função de transtornos de condução e arritmias cardíacas no DF, no ano passado.
Demora
Em abril de 2011, as demandas da corporação foram enviadas à Secretaria de Saúde. De lá para cá, nada foi comprado. A bateria do massageador custa cerca de R$ 11 mil e tem vida útil de três anos. Já a compra das pilhas precisa de planejamento mais detalhado, em função de seu reduzido tempo de validade. O conjunto com 10 unidades custa R$ 400 e dura apenas dois anos. Tampouco se falou em compras emergenciais para minimizar os transtornos no atendimento médico de emergência.
Caselli explica que os procedimentos estão correndo na Central de Compras do GDF e na Secretaria de Saúde, mas critica o modelo de aquisição de insumos para a saúde. “A forma de comprar para a saúde tem que ser diferente, porque, como é hoje, simplesmente não funciona. Não é como comprar uma caneca. É questão de vida ou morte. Paciente não pode esperar”, atenta.
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que “que o processo de manutenção para reposição as baterias está em andamento nas áreas responsáveis por pareceres e ajustes necessários aos certames, para que seja concluído o mais breve possível”. Não foi estipulada, no entanto, uma previsão de normalização do serviço.
Como funciona
O desfibrilador é um aparelho de ressuscitação cardíaca que funciona por meio de choques elétricos. Ele é acionado quando o coração deixa de bombear sangue e está apenas fibrilando (vibrando). Os desfibriladores mais modernos são semiautomáticos e dão instruções precisas ao usuário. São capazes de identificar a frequência cardíaca e se o coração está ou não fibrilando. Apenas em caso positivo, o aparelho permite o acionamento do choque pelo usuário.