Saúde Ambiental: resistência e premiação na luta contra os agrotóxicos e os transgênicos.
por Maria Eneida de Almeida, coordenadora do Núcleo Chapecó do Cebes e membro do Conselho Consultivo e Matheus Ribeiro Bizuti, membro do Núcleo Chapecó e membro do Conselho Fiscal.
O Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES) desempenha um papel fundamental no campo da Saúde Ambiental, seja por meio de eventos e cursos online, seja por meio de produção cientifica. A Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), fruto de políticas educacionais nacionais de interiorização do conhecimento, tem dois de seus eixos constitucionais que são a tônica da criação do Núcleo Chapecó: Saúde Coletiva e Agroecologia. A união destes temas vem sendo a dinâmica principal de fóruns científicos e de eventos acadêmicos do Núcleo que, além da comunidade acadêmica, conta com profissionais de saúde e com a comunidade regional, provocando reflexões sobre os desafios contemporâneos que o Brasil vem crescentemente enfrentando.
Desde a década de 1970, quando a Revolução Verde começou a varrer as nações, alterando todo o modo de produção agrícola, em detrimento dos camponeses, dos pequenos agricultores, dos indígenas e a favor dos grandes latifundiários, vivenciamos a geração de monoculturas com redução da biodiversidade. Para mais, houve o empobrecimento nutricional dos alimentos devido a introdução de sementes transgênicas no cultivo e na exacerbação do uso de agrotóxicos que seguem direto para a mesa das populações. Dentro deste árido contexto, os prejuízos ambientais vêm permeando os campos e reduzindo a qualidade da vida vegetal, animal e humana, impondo inadvertidamente às populações, riscos e agravos à saúde de todos.
Há mais de cinquenta anos, o planeta vem sofrendo um desenvolvimento biotecnológico de profunda transformação da natureza – na agricultura, na pecuária e na sociedade humana. A biotecnologia veio para ficar. E pertencente ao nosso tempo. A prática da manipulação genética das espécies é a grande novidade do século XXI. O desenvolvimento biotecnológico contemporâneo está transformando o planeta em todos os aspectos, alterando a percepção da realidade e construindo um novo mundo, talvez ao modelo de Aldous Huxley, de um “Admirável Mundo Novo”.
Frente aos desafios gerados por processos técnicos inerentes ao nosso tempo, há enfrentamentos em prol da preservação da natureza e da espécie humana: técnicos, ideológicos, políticos, sociais, acadêmicos, entre outros. No caso do Brasil, as resistências são permanentes. Devido à atualidade deste desafio global, faz-se relevante dar ênfase a uma das grandes resistências nacionais em Saúde Ambiental no âmbito local, regional, nacional e internacional, Antônio Inácio Andrioli, que tem uma luta incessante contra o uso de agrotóxicos e contra a implantação de transgênicos na agricultura brasileira.
Esta premiação é o resultado de uma luta e de uma história que agrega pessoas que fazem a diferença na construção de alternativas para um futuro melhor a toda humanidade. Andrioli é um representante deste grupo de pessoas, sendo incansável nos esclarecimentos e nas reflexões sobre o poder da indústria dos transgênicos, sobre a destruição ambiental proveniente do uso indevido dos agrotóxicos, bem como sobre a exclusão social dos agricultores e dos povos indígenas.
Andrioli é cofundador da UFFS, o qual contribuiu efetivamente como vice-reitor na implantação e implementação de um projeto de universidade pública e popular com inclusão de estudantes de baixa renda e de grupos sociais apartados do acesso ao conhecimento científico, como os negros e os índios. É ex-membro da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) como especialista em agricultura familiar, sendo militante atuante contra a liberação de agrotóxicos e transgênicos, cuja desqualificação do princípio da precaução, gera prejuízos desconhecidos para toda sociedade. Assessorou o governo nos temas de sua especialidade científica.
A Organização Alemã “Amigos da Terra” é a maior organização ambiental da Alemanha, que faz a avaliação de pesquisas e trabalhos relevantes em defesa da terra e da sociedade. Anualmente, desde 1970, destaca essas personalidades com o “Prêmio Baviera de Proteção Ambiental”. Andrioli é o primeiro brasileiro e o mais jovem cientista a receber este prêmio. A cerimônia será em 28 de janeiro de 2020, às 18 horas, em Munique, Alemanha.
Este prêmio é dado a estudiosos que desenvolvem trabalhos significativos, os quais se destacam na produção de alternativas para um mundo sustentável. Dentro desta mesma perspectiva está a criação da Universidade Federal da Fronteira Sul que tem ênfase nas questões ambientais. Desta forma, receber este prêmio é um reconhecimento de muitos anos de trabalho a favor de uma agricultura livre de agrotóxicos e de transgênicos e, ao mesmo tempo, em defesa dos camponeses, dos agricultores familiares e dos povos indígenas.
Nas palavras de Andrioli: “Este é um prêmio para quem luta por um mundo mais sustentável e que tem, no conhecimento, uma das principais formas de contribuir com isso. A ciência, o conhecimento e a luta são três elementos importantes que se juntam e, com esse prêmio, acabam tendo reconhecimento internacional“.
Um dos primeiros desdobramentos desta premiação é a possibilidade da construção de um Centro de Referência em Agroecologia no Brasil, que poderá acumular vastos conhecimentos para atender as necessidades da população no enfrentamento dos desafios vindos de um modo de produção nefasto para toda a sociedade. O CEBES – Núcleo Chapecó, sediado na UFFS, tem muito orgulho de participar deste momento de premiação e reconhecimento do seu membro mais ilustre. Ele é membro do CEBES – Núcleo Chapecó desde a realização do I Congresso Internacional de Políticas Públicas de Saúde: em defesa do sistema universal de saúde, realizado em dezembro de 2017. Sendo associado do CEBES Nacional, compreendeu a importância desta entidade e contribuiu para que a UFFS também fosse sócia institucional na luta pelo direito à saúde e por uma saúde livre de venenos.