Saúde é alvo do projeto da extrema direita israelense de limpeza étnica
Ataques a hospitais e profissionais de saúde no Oriente Médio agravam a crise humanitária. Gabriel Semerene representou o Cebes no programa O Mundo é um Moinho, do canal GGN
O que está acontecendo em Gaza não é guerra, é genocídio. Os ataques aos sistemas de saúde e aos profissionais que neles atuam emergem como uma das faces mais cruéis dos conflitos no Oriente Médio. Em cenários como Gaza, Cisjordânia e Líbano, hospitais e clínicas deixam de ser refúgios para se tornarem alvos, enquanto médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da saúde arriscam suas vidas para garantir a sobrevivência dos feridos. O direito humanitário, que deveria proteger esses espaços e profissionais, parece cada vez mais ignorado.
A violência nesses territórios não afeta apenas os profissionais diretamente. Ela compromete a assistência aos feridos da guerra, muitas vezes determinando a linha tênue entre a vida e a morte. Em um cenário onde infraestrutura é destruída e recursos são escassos, os trabalhadores da saúde enfrentam condições extremas para cuidar de uma população devastada pela violência.
Esse contexto levanta questões urgentes: como garantir a proteção dos sistemas de saúde em meio a guerras que ignoram fronteiras éticas? Que impacto isso tem na vida das comunidades que dependem desses serviços? E, talvez o mais perturbador, o que significa para a humanidade quando a saúde, um direito fundamental, se torna um alvo deliberado?
O tema foi debatido em profundidade durante uma live realizada ontem no programa O Mundo é um Moinho, transmitido pelo canal TV GGN. Gabriel Semerene Costa, mestre em Estudos do Oriente Médio, representou o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes). Para ele, os ataques aos sistemas de saúde nesses territórios configuram “um projeto direto de destruição”. Gabriel citou o recente relatório da Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre o Território Palestino Ocupado da ONU, que aponta para uma ofensiva sistemática contra a saúde pública.
“Os primeiros hospitais foram atacados em Gaza logo após o 7 de outubro de 2023. O principal exemplo foi o ataque ao Hospital Batista, que marcou uma escalada dessa prática. Inicialmente, Israel negou autoria, atribuindo o ataque a grupos locais. No entanto, mesmo essa narrativa acabou cedendo, evidenciando o descaso com o direito humanitário internacional”, relatou Gabriel.
O especialista ressaltou ainda que essa tática se estendeu ao Líbano, onde hospitais foram diretamente atacados sob a justificativa de que eram usados como bases militares. “No Líbano, nem mesmo houve tentativas de negar os ataques. Argumentos frágeis sobre o uso de hospitais como escudos humanos são apresentados, mas investigações como as da BBC não encontraram qualquer evidência que justificasse essas ações”, criticou.
O colapso dos sistemas de saúde palestinos e libaneses é ainda mais agravado pela fragmentação política e territorial da região. “Antes de outubro, os sistemas já enfrentavam desafios por conta da divisão do território e dos diferentes status da população. Agora, a situação é crítica, especialmente em Gaza, onde mais de 80% da população depende da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina). Israel baniu a agência, privando milhões de pessoas de acesso à saúde, educação e até mesmo alimentos básicos”, alertou.
A live no canal TV GGN trouxe à tona a necessidade urgente de mobilização internacional para proteger profissionais de saúde e pacientes que dependem de uma infraestrutura sistematicamente destruída. O colapso da saúde em cenários de guerra não é apenas uma tragédia humanitária, mas também um símbolo do quanto o direito humanitário internacional está sendo desconsiderado em conflitos cada vez mais brutais.
O programa foi apresentado pelo cientista político Pedro Costa Jr. Além de Gabriel, contou com a participação da professora Muna Muhhamad. O Mundo é um Moinho aborda geopolítica ao vivo, toda quinta-feira, às 21h, no canal TV GGN.
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Assine a petição Condenamos ataques aos profissionais de Saúde na Palestina
Reportagem: Fernanda Cunha/Cebes