Secretário da Rio+20 admite retrocesso na área ambiental

O Globo – 12/06/2012

Os princípios acertados na Rio 92 são “tão ou mais” válidos hoje, segundo Sha Zukang. Mas outros pontos, como o clima global, devem entrar na lista de preocupações

Em encontro com o prefeito Eduardo Paes no Palácio da Cidade, em Botafogo, o secretário- geral da ONU para a Rio+20, Sha Zukang, reconheceu a dificuldade em estabelecer um acordo entre todos os países presentes. Para o diplomata chinês, o mundo retrocedeu, desde a Rio 92, na conservação ambiental, embora seja mais rico do que duas décadas atrás.

Zukang, porém, fez suas confissões sem perder o otimismo.

O secretário acredita que será possível fechar esta semana os 200 parágrafos ainda em negociação do acordo que as Nações Unidas esperam endossar no fim da Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável. Por enquanto, 75% do documento seguem sem definição.

Embora diplomatas de diversos blocos de países já estejam debruçados sobre o acordo, as negociações formais ocorrerão apenas de quarta a sexta-feira.

A Rio+20 não contará com o presidente americano, Barack Obama nem com os primeirosministros do Reino Unido, David Cameron, e da Alemanha, Angela Merkel. Ainda assim, Zukang não considera que os possíveis acertos firmados na próxima semana serão esvaziados.

O secretário da ONU evitou comentar a ausência dessas autoridades.

— São assuntos internos de cada um desses países — avaliou.

— Cada um deles será representado por pessoas de alto nível, capazes de ratificar as decisões. Mas, se eles (Obama, Cameron e Merkel) tiverem algum tempo, ficaremos muito felizes que venham.

Até agora, 134 chefes de Estado e governo já se inscreveram para discursar durante a conferência. Vinte anos atrás, foram 108.

— Nosso trabalho não será mudar os princípios firmados na Rio 92, mas incluir outros. Temos novas preocupações, como direitos humanos e mudanças climáticas — ressaltou Zukang.

— Passaram 20 anos e não vimos progresso em temas como desenvolvimento sustentável e proteção ambiental. Na verdade, retrocedemos. Tudo o que estabelecemos àquela época é tão ou mais válido atualmente.

“Diferença de prioridades” é entrave nas negociações Todos concordam, segundo o secretário, que atingir o desenvolvimento sustentável é “um trabalho difícil”. Isso porque a expressão, para sair do discurso e virar política pública, dependeria de três pilares: progresso econômico, social e ambiental. Embora o primeiro fator esteja melhor do que duas décadas atrás, os outros seguem questionáveis.

— Integrar os três pilares é muito complicado, até porque os países não estão no mesmo nível e cada um tem sua prioridade — alegou. — O modelo atual de desenvolvimento, com o crescimento populacional, não se sustenta. Por isso acredito que podemos acertar soluções para os principais problemas.

Se não terminarmos as negociações esta semana, que fique para a próxima. Espero que isso não aconteça, mas, baseado em nosso histórico, sempre fica tudo para o último minuto.

Com uma sociedade civil cada vez mais engajada na causa ambiental, o secretário chinês considera inevitável que a Rio+20 tenha um final feliz.

— A Rio 92 deixou um grande impacto, mas esta provocará um efeito ainda maior na vida das pessoas, em seu futuro e em sua saúde — assegurou.

Paes anunciou que a equipe da prefeitura, de Zukang e do Itamaraty vão se reunir diariamente, já a partir de hoje, sempre às 9h. O objetivo do encontro será definir eventuais reajustes das operações municipais.

— Queremos dar agilidade às nossas decisões — explicou.

— A estrutura de hotéis já está melhor do que imaginávamos.

Vamos receber pelo menos 50 mil pessoas.