TRF quer reabrir centro de medula

O Globo – 26/02/2012

Unidade para transplantados em PE foi fechada devido à “baixa produtividade”

RECIFE. O Desembargador Lázaro Guimarães, do Tribunal Federal Regional da Quinta Região, determinou na sexta-feira que o governo de Pernambuco providencie a reabertura do Centro de Transplantes de Medula Óssea (CTMO) da Fundação Hemope, fechado em dezembro do ano passado sob justificativa de apresentar “baixíssima produtividade”. Organizações não governamentais, pacientes e seus parentes denunciaram atraso nas sessões de quimioterapia por falta de leitos e de medicamentos, como o Granulokine.

– Falta tudo no Hemope, gazes, esparadrapo, copos descartáveis, suportes para os cateteres, e já vi comida estragada sendo servida. Minha filha adoeceu no ano passado e, desde então, já enfrentamos a falta de Metronidazol, Fluconazol, Aciclovir, Pidomag, Bactrin, Decadron e até de Luftal – reclamou Maria Eliane Moreira da Silva, mãe de Marcelle Moreira de Brito, 22, portadora de leucemia mieoloide aguda e que precisa de quimioterapia, enquanto aguarda a cirurgia.

De acordo com Eliane, a quarta sessão de quimioterapia da filha sofreu um atraso de quase dois meses, por falta de medicamentos. Marcelle penou no serviço público de saúde. Apesar da doença grave, foi tratada, muitas vezes, como se estivesse com uma simples virose ou uma infecção urinária. Seu problema foi diagnosticado após internação e uma bateria de exames no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco.

O CTMO funcionava no Hospital dos Servidores de Pernambuco, com administração do Hemope – responsável pelo fornecimento de sangue para todos os hospitais públicos, filantrópicos e privados do estado – , e já foi considerado uma unidade de excelência no setor. Com a sua desativação, o Hemope passou a dar assistência pré e pós-operatória aos transplantados na sua própria sede.

– Com o fechamento do CTMO, a equipe, que era de excelência, foi diluída, e não sabemos onde foram parar os três leitos do CTMO, que eram muito bem equipados, os melhores da região – reclamou Liliane Peritore, diretora da ONG Amigos do Transplante de Medula Óssea.

Ontem, O GLOBO constatou paredes úmidas e descascadas no prédio do Hemope, onde pacientes são atendidos. Ao fechar o CTMO, o governo do estado afirmou que o custo anual da unidade chegava a R$ 5 milhões, o que implica em gasto de R$ 700 mil por transplante. Mas a ONG divulgou uma tabela mostrando o custo de quatro transplantes (com as iniciais dos pacientes), com valores que ficam entre R$ 22.968 (autólogos) e R$54.939 (alogênicos), por procedimento.

Segundo o governo, os transplantes foram transferidos para o Hospital Português, que é particular e tem convênios com o SUS, ao custo de R$ 33 mil por cirurgia, “21 vezes inferior” ao registrado no estado. A Secretaria de Saúde garantiu, ainda, que, com a medida, o Hemope poderá reduzir o tempo de espera por transplante de medula. Mas, segundo a ONG e a Associação de Defesa de Usuários de Seguros, Planos e Sistemas de Saúde, isso não está ocorrendo. Por esse motivo, pedem a reabertura do CTMO na Justiça. O GLOBO tentou falar com o Hemope, mas o telefone estava na caixa postal.