Visão do Correio: Câncer desafia o SUS

Correio Braziliense – 26/11/2011

 A expectativa de que mais de 500 mil brasileiros serão atacados pelo câncer em 2012 remete à necessidade de intensa mobilização dos serviços de saúde pública. São 59 casos por hora ou 1.416 por dia. A estimativa é do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que, baseado em dados do Sistema de Informações de Mortalidade e dos Registros de Câncer de Base Populacional, chegou aos números sobre a incidência da doença no território nacional.

Além das novas ocorrências, o Sistema Único de Saúde (SUS) terá de atender a enorme fila que se formou ao longo de anos de procrastinação, incapacidade e gestão mais política que profissional. Se depender da situação atual do SUS, a moléstia provocará verdadeira catástrofe. O aparato assistencial da rede sustentada pelo Estado não dispõe de meios para enfrentar o desafio. Tampouco está aparelhado para atender a demanda atual de enfermos.

Os hospitais capacitados a socorrer a população dependente de cuidados gratuitos oferecem serviços de qualidade internacionalmente aceita. O problema reside na demora — seja no diagnóstico, seja no acesso ao tratamento. A porta de entrada estreita cobra preço elevado de quem não consegue passagem. Segundo os especialistas, a redução da mortalidade depende da detecção precoce da neoplasia maligna.

Sem a prontidão necessária, o SUS condena à morte adultos e crianças que teriam condições de ser salvos. O percentual de pessoas que sobrevivem cinco anos depois do início do tratamento define a qualidade do atendimento. No câncer de mama, por exemplo, o mais comum no país, o índice chega a 85% nos países desenvolvidos. No Brasil, beira 60%. A desvantagem não tem relação com a excelência médico-hospitalar, mas com os gargalos do acesso.

Não só. Equipamentos quebrados contribuem para a perda de vidas. É o caso dos mamógrafos. Segundo o Inca, em 2011, 49.240 brasileiras desenvolveram câncer de mama. No próximo ano, a projeção é de 52 mil. Apesar da cifra alarmante, dos 1.514 mamógrafos existentes na rede pública, 14,7% estão fora de uso. São nada menos de 223 unidades. No Distrito Federal, o quadro tem cores mais sombrias — a quarta parte dos 12 aparelhos não funciona.

Está posta, portanto, ingente operação no sentido de revisão da política pública de saúde a fim de atenuar o sacrifício anunciado para parte significativa da população. É certo que não será fácil a adoção de medidas capazes de surtir efeito imediato. Mas urge adotá-las para formar base sustentável apta a dinamizar, a partir de agora, a ação do governo na área.