Visão do Correio: O desafio é a desigualdade

Correio Braziliense – 04/11/2011

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU mostra o retrato de um Brasil que avança, mas a passos lentos. Divulgado na quinta-feira, o relatório apresenta o país no 84º lugar entre 187 nações — uma posição acima em relação a 2010. Assim o indicador que apura o bem-estar das populações passou de 0,715 para 0,718. Desde 2000, ocorre crescimento de 0,69% ao ano. Em 2007, entramos no clube do Alto Desenvolvimento Humano.

Alvissareiro à primeira vista, o estudo revela retrocessos se analisado com um pouco mais de cuidado. Dados recuperados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) revelam que, entre 1980 e 1990, o crescimento beirou 1% ao ano. Houve, pois, desaceleração no ritmo. O fenômeno, comum em sociedades desenvolvidas, requer iniciativas ousadas das que aspiram atingir patamares mais elevados. A freada na expansão se explica: resolvemos o problema da quantidade. Precisamos, agora, investir na excelência.

A tarefa não é fácil, mas se impõe. Como o acabamento de uma obra, requer tempo e investimentos robustos para atingir os mais desfavorecidos entre os desfavorecidos. Educação, saúde e renda constituem o tripé a ser enfrentado — com determinação e continuidade. A educação se mantém sem mudanças. É má notícia. O país assegura vagas para os 12 anos do ciclo básico obrigatório. Mas não consegue reter a evasão. Alunos abandonam as salas de aula antes de completar o ensino fundamental.

Mais: o número médio de anos de estudo do brasileiro estacionou em 7,2 anos. Comparado com o 12,6 da Noruega, que exibe o melhor IDH do mundo, sobressai a abissal distância que separa a qualidade de vida de uns e de outros. Mantida a velocidade de evolução, serão necessários 31 anos para atingirmos o nível nórdico. Precisamos estudar mais e melhor. Não basta aumentar a quantidade de dias letivos. É imperativo melhorar a qualidade da escola pública.

A saúde experimentou progresso — a expectativa de vida passou de 73,1 anos em 2010 para 73,5 anos em 2011. A distribuição da renda, embora tenha melhorado, é o calcanhar de aquiles nacional. Ao ajustar o IDH pela desigualdade, o Brasil despenca 13 posições. Desde o descobrimento, o país convive com vergonhosos hiatos sociais. No topo magro da pirâmide, os ricos. Na base larga, os pobres. O meio achatado cresce, mas, considerado o tempo perdido, precisa acelerar o passo. Só assim, a imensa dívida social pode ser resgatada.