Casa Oswaldo Cruz lança nova edição da Revista História, Ciência, Saúde

A primeira edição de 2014 da Revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos tem como foco o Sistema Único de Saúde (SUS). Decorridos mais de 25 anos de sua criação, uma série de artigos e entrevistas analisam os desafios do sistema público, discutem as narrativas construídas sobre o modelo brasileiro ao longo dos anos e questionam as implicações da sua coexistência com o setor privado. O atual número traz ainda o dossiê Brasil no contexto global, 1870-1945, com trabalhos derivados de uma conferência realizada no Instituto de Estudos Latino-Americanos da Universidade Livre de Berlim, em 2011.

O artigo que abre esta edição aborda o contexto da criação do SUS durante a redemocratização e recorda o tratamento dado à saúde no Brasil no período anterior, da ditadura instaurada em 1964. O texto analisa como a historiografia avalia as principais características, o surgimento e o legado da reforma sanitária brasileira. HCS-Manguinhos apresenta também um trabalho que discute, por meio de uma abordagem histórica, os desafios para a consolidação do SUS, incluindo questões como o desenvolvimento do setor privado de saúde e sua crescente competição com o sistema público.

A imagem do SUS como um problema a ser enfrentado, construída pela grande imprensa, é o tema de outro artigo. A autora busca identificar os recursos linguísticos a partir dos quais esse discurso é produzido no jornal Folha de S. Paulo. Na seção Depoimento, uma entrevista com Lígia Bahia, professora do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), põe em discussão os rumos do SUS por meio de questões atuais, como o programa Mais Médicos. “[…] O que eu vejo é uma sucessão de governantes que pensam que o SUS é para pobres”, diz ela sobre o crescimento do setor privado na área de saúde.

O dossiê que integra esta edição de HCS-Manguinhos inclui textos que não estão necessariamente relacionados à saúde, mas que propõem uma reflexão sobre o Brasil no contexto global. O primeiro artigo do dossiê observa que Gilberto Freyre, ao contrário de Fernand Braudel, seu contemporâneo francês, não é considerado um fundador da ‘nova história global’ e analisa o valor de sua obra para a historiografia contemporânea. Uma vez que sua literatura trata de temas como colonialismo, migração e ‘miscigenação’, não revelaria também algo sobre o que se chama hoje de globalização? – questiona a autora.

Outros artigos abordam temas como história, nação e raça no contexto da Exposição do Centenário em 1922; estilos modernos de capoeira; a rivalidade futebolística entre Rio e São Paulo; a relação dos paulistas com a neurastenia, “a mais moderna e americana das doenças”, nas primeiras décadas do século 20; entre outros. Quatro trabalhos detêm-se na temática da imigração. Um deles investiga a relação entre imigração e identidade nacional. O autor mostra que os líderes econômicos e culturais no Brasil até hoje veem os imigrantes como agentes de melhoria de uma nação imperfeita. Há ainda um texto sobre a imigração de japoneses e europeus para o Paraná e a relação deles com os índios.

A edição contém ainda uma entrevista com o renomado historiador alemão Stefan Rinke, da Universidade Livre de Berlim, na qual o acadêmico fala sobre sua trajetória, história global/transnacional, e projetos conjuntos entre Alemanha e América Latina. Na seção Carta ao editor, um texto aborda a institucionalização de práticas integrativas e complementares no SUS. Outra carta faz uma crítica aos atuais comitês de ética na pesquisa no Brasil, argumentando que essas instâncias vêm cerceando as atividades de pesquisa nas Ciências Humanas.

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