Trajetória de Sérgio Arouca será tema de comissão
A Comissão da Verdade e Memória (CVM) “Octávio Ianni” da Unicamp, São Paulo, convida o professor e diretor do Cebes Nelson Rodrigues dos Santos e a professora Anamaria Tambellini para deporem na quinta-feira (14) sobre a trajetória do médico sanitarista, militante e político Sérgio Arouca.
A Comissão foi criada para investigar fatos que tenham resultado em eventuais arbítrios e violações de direitos humanos praticados contra docentes, alunos e funcionários. Os dois pesquisadores darão depoimentos sobre episódios ocorridos na Faculdade Ciências Médicas da Unicamp, em meados dos anos 1970, que culminarão com a saída de vários pesquisadores, por razões políticas.
Anamaria Testa Tambellini
É formada em Medicina pela USP de Ribeirão Preto (1966), de onde seguiu para a recém-fundada Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), contratada para compor o quadro de docentes no Departamento de Medicina Preventiva e Social da instituição em 1967. Mais tarde desenvolveu sua tese de doutorado no tema pela mesma universidade.
Foi a primeira esposa de Sérgio Arouca, também médico e importante figura política na estruturação de uma proposta de Medicina Preventiva com maiores articulações com a comunidade e com o contexto político, econômico e social mais amplo em que estão inseridos os pacientes.
Anamaria conviveu com Sérgio Arouca desde os tempos de estudante na faculdade em Ribeirão, sendo que seu companheiro à época também veio para Campinas contratado como professor no mesmo departamento. Em torno de Arouca, consolidava-se com o passar dos anos um grupo de docentes e pesquisadores engajados em um projeto de repensar práticas e valores da Medicina Preventiva, em prol de um caráter mais coletivo e social para a questão. Em um contexto de repressão e autoritarismo pelo qual o país então passava, isso significou atrair a atenção e a gana persecutória do regime militar. Assim, com sua atuação, o grupo desagradou aqueles setores da universidade mais afinados com o projeto conservador e autoritário dos militares. Sérgio e Anamaria relatam, por exemplo, que foram impedidos durante muitos meses de defender a tese de doutorado que desenvolviam na Unicamp, sendo convidados a procurar outra instituição quando concluíssem o trabalho. Tais fatos ocorreram em meados de 1975, período de ofensiva da repressão política.
Atualmente Anamaria Testa Tambellini integra o Departamento de Medicina Preventiva e Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ, sendo especialista em temas como saúde do trabalhador, epidemiologia e acidentes de trânsito.
Nelson Rodrigues dos Santos
Formou-se em Medicina na Universidade de São Paulo em 1961, e obteve doutorado em Medicina Preventiva pela mesma instituição, em 1967, onde se especializou em saúde pública.
Durante sua vida estudantil, militou na UEE, na UNE e, durante algum tempo, no PCB. Participou de projetos ligados à área do desenvolvimento da saúde pública, como o departamento de Saúde Comunitária, em Londrina, o Programa de Preparação Estratégica de Pessoal de Saúde (PPREPS/Opas), o Cebes, e o Prev-Saúde. Foi preso e levado ao DOI-CODI de Londrina nos anos 70, graças à ligação de seu nome ao PCB, como também pela sua militância na área do crescente movimento pela reforma sanitária, tendo sido liberado um mês depois.
Em 1978, mudou-se para Campinas e entrou na Unicamp, onde ajudou a montar um curso de saúde pública e, em 1983, foi convidado pelo prefeito Magalhães Teixeira (MDB) para ser Secretário da Saúde da cidade. Atualmente, é professor colaborador da Unicamp e presidente do Instituto de Direito Sanitário Aplicado (IDISA).
Serviço
Comissão da Verdade e Memória
Data: 14 de agosto
Horário: 9h30min
Local: Auditório do Departamento de Saúde Coletiva, 1º piso da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp
Endereço: Rua Tessália Vieira de Camargo, n. 126 – Edifício ao lado do mastro com a bandeira do Brasil, saída para o campus da PUC
Foto: Sinfoto DF