La Insubordinación de los Privilegiados – documentário argentino sobre o direito à saúde

Estreou hoje na Argentina o documentário La Insubordinación de los Privilegiados que aborda a questão da saúde pública nos tempos atuais. É um filme urgente no atual cenário de mudanças radicais na política e retiradas de direitos. Há planos de trazê-lo para território brasileiro e, em breve, estará disponível na íntegra no youtube. A película conta com a participação da cebiana Sônia Fleury.

Sinopse:
O neoliberalismo mata e adoece. A insubordinação dos Privilegiados entra em cheio no conflito entre o direito à saúde e os interesses cada vez mais inumanos da “indústria da doença”. Um documentário que tenta resgatar as experiências das pessoas e seus recorridos pelos serviços de saúde, tentando explicar os problemas de acesso à saúde e a uma vida digna. Através de análises de importantes referentes do campo político e sanitário indica possíveis caminhos para uma necessária transformação.

A seguir, uma breve entrevista do Cebes com Nicolás Krepak, o diretor do filme:

Quem é Nicolás Kreplak?
Um médico clínico e sanitarista, professor universitário e presidente da Fundação Soberanía Sanitária. Também fui vice ministro da saúde na Argentina durante o ano 2015.

Como surgiu a ideia de fazer o documentário La Insubordinación de los Privilegiados? Por que esse nome?

O tema da saúde é muitas vezes deixado de lado ou abordado a partir de uma perspectiva meramente médica. Geralmente a comunicação em saúde trabalha certos aspectos, como as tecnologias duras, mas não costuma abordar como a política e o sistema econômico atuam sobre a saúde. A principal motivação para esse projeto é colocar o tema da saúde na agenda e discutir seu plano cultural e político.

O nome do documentário surge durante a entrevista feita a Iñigo Errejón, político espanhol, que fez uma reflexão sobre o processo de “independência dos ricos”, essa cisão que os setores privilegiados fazem do resto da sociedade, produzida pelo neoliberalismo e seu processo financeirização exacerbada da economia.

Como foi o processo de fazer o filme?

É um projeto sem fins comerciais que só foi possível graças ao compromisso e a colaboração de alguns trabalhadores do cinema argentino que colocaram seus conhecimentos e seu tempo à disposição, por entender que a realização desse filme era necessária e importante.

Começamos as entrevista no ano 2017. Tivemos alguns momentos onde realizamos um trabalho mais intenso e outros onde não tivemos o tempo suficiente para trabalhar do jeito que queríamos. Mas de qualquer maneira, a continuidade do projeto nunca esteve em dúvida porque estávamos motivados ideologicamente.

O filme foi feito com representantes de quais países? O que eles têm em comum?

O documentário contou com a participação de pessoas da Argentina, do Brasil e da Espanha, com experiências nas áreas de pesquisa, gestão e da política. Com elas foi possível trabalhar algumas questões complexas do campo sanitário: a noção de direito contraposta à de saúde como bem de mercado, o papel do Estado e a influência da indústria, o desafio de construir uma força social frente ao individualismo proposto pela retórica neoliberal.

Há similaridades nos serviços de saúde dos países da América Latina? Quais? E as diferenças?

Existem algumas semelhanças, em geral estão sub financiados e possuem uma forte influência do setor privado na organização real do sistema e na prestação dos serviços. Por outro lado, cada país tem uma história própria de construção de seus sistemas de saúde, alguns com maior trajetória, como a Argentina que começou a construir seu sistema na década de 1940, outros mais recentes, como Bolívia que lançou seu projeto de sistema único de saúde no ano passado. Existem também diferentes formas de financiamento e organização dos serviços, em alguns países predomina os sistemas universais enquanto em outros possuem distintas formas de asseguramento.

O filme conta com depoimentos de Axel Kicillof, Daniel Gollan, Íñigo Errejón, Alicia Stolkiner, Mario Testa, Sonia Fleury, Mario Rovere, Nísia Trindade Lima, Jorge Rachid, Lorena Barrionuevo, María Inés Kreplak, Adrián Cancinos? Quem são?

Axel Kicillof é doutor em economia, pesquisador e político. É o governador eleito na província de Buenos Aires durante as eleições ocorridas em outubro de 2019.
Daniel Gollan é médico sanitarista, foi ministro da Saúde na Argentina em 2015.
Íñigo Errejón é doutor em Ciências Políticas, referente do espaço político “Más País” na España.
Alicia Stolkiner é psicóloga e sanitarista. Professora e pesquisadora da Universidade de Buenos Aires (Argentina)
Mario Testa é um médico sanitarista argentino e um referente latinoamericano na área da planificação estratégica em saúde. É também Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal da Bahia.
Sonia Fleury é psicóloga e sanitarista, Doutora em Ciências Políticas. É pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro.
Mario Rovere é médico pediatra e sanitarista, professor, pesquisador e Diretor do Mestrado em Saúde Pública da Universidade Nacional de Rosario (Argentina).
Nísia Trindade Lima é Mestra em Ciência Política y Doutora em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisadores do Río de Janeiro. Atualmente é presidenta da Fundação Oswaldo Cruz.
Jorge Rachid é médico cirurgião e laboral, especialista em seguridade social e indústria farmacêutica (Argentina).
Lorena Barrionuevo, Inés Kreplak y Adrián Cancinos são pacientes de distintos estratos sociais, que contam suas experiências no fragmentado sistema de saúde argentino.

O filme será exibido no Brasil em circuito comercial? Está procurando parcerias para exibição?

A intenção é fazer uma estreia no Brasil e apresentar em festivais de cinema. Se houver alguma distribuidora interessada seria muito interessante. Estamos abertos a escutar ideias e propostas para trabalhar com esse filme no Brasil.

Há vontade de fazer outro filme em um futuro próximo? Qual tema?

Realizar esse projeto fue uma grande experiência mas, por agora, estamos pensando em aproveitar o material que não foi utilizado no filme para trabalhar alguns capítulos para um espécie de série. Para fechar o documentário tivemos que priorizar algumas coisas e com certeza deixamos muitas outra questões interessantes fora do trabalho final. Acho que por isso vale a pena utilizar esse material para aprofundar em alguns temas.

O que é a Fundação Soberania Sanitária, que apoiou a realização do filme?

A Fundação Soberania Sanitária é uma comunidade de trabalhadores do campo sanitário que nasce pela necessidade de gerar um espaço para incentivar o pensamento, o debate, a pesquisa e a formação em saúde pública. Com o foco na saúde como direito, reivindicamos o papel reitor do Estado ao mesmo tempo que promovemos a participação comunitária como ferramenta indispensável para a construção de um sistema de saúde mais justo.

Segue o trailer:

Veja também um trecho do depoimento da cebiana Sônia Fleury: