Artigo de José Gomes Temporão

Jornal O Dia “Rio – 05/02/2012

A Organização Mundial de Saúde (OMS) acaba de divulgar relatório afirmando que o consumo abusivo de álcool mata mais do que a tuberculose, a violência e a Aids. Segundo a OMS, “as políticas de controle do álcool são fracas e ainda não são prioridade para a maioria dos governos, apesar do impacto que o hábito causa na sociedade: acidentes de carro, violência, doenças, abandono de crianças e ausência no trabalho”.

Faz bem o governo, agora, ao buscar mudanças na legislação da Lei Seca, para impor maior rigor na punição dos infratores. Enquanto cresce a legítima preocupação com o uso das drogas ilícitas, como o crack, não podemos ignorar que o consumo abusivo de álcool é também problema grave sob qualquer ponto de vista. Por ser droga considerada legal e culturalmente aceita, o acesso ao consumo é fácil e barato. A própria sociedade constrói estereótipos sobre o tema: o bêbado engraçado das piadas e programas humorísticos, o pai orgulhoso do filho que é macho porque já começou a beber bem cedo… A propaganda de cerveja fartamente veiculada pelas principais redes de TV e rádio é fator incontrolável de estímulo irresponsável ao consumo abusivo. Estratégia de deseducação, essa publicidade visa a moldar novos sujeitos para o consumo: jovens e adolescentes. O impacto dessa propaganda principalmente nos mais jovens é brutal, levando à banalização do consumo, ao utilizar a imagem de atletas e artistas famosos como mercadores inconsequentes. Resultado: aumento da violência, o sexo inseguro, mortes no trânsito. Até quando assistiremos inertes à omissão em tema de tão grande importância para a saúde da população?

José Gomes Temporão é ex-ministro da Saúde e coordenador- executivo do Instituto Sul Americano