Uma Embrapa para acelerar pesquisas em Saúde
Franco Pallamolla*
O sucesso da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é indiscutível. Por mérito da instituição, o Brasil firmou-se como referência mundial no desenvolvimento tecnológico aplicado à agricultura e pecuária. O grau de excelência dos produtos da Embrapa permitiu ao país conquistar o mercado internacional e fazer frente a países – principalmente os mais ricos – que se destacam por meio de pesados subsídios investidos nos respectivos setores agrícolas.
Sem dúvida, o êxito da empresa é reflexo de muito trabalho e dedicação. No entanto, a base destes pilares reside em um princípio elementar: a pesquisa tecnológica consorciada com a iniciativa privada (estratégia que requer do setor público uma organização empresarial). Estruturada desta forma, a Embrapa atua como ponte entre a universidade e as empresas, preservando o timing necessário da pesquisa acadêmica, sem perspectivas de aplicação imediata, mas atenta às demandas do mercado.
Os resultados obtidos pela Embrapa não diminuem a importância das parcerias diretas entre instituições de ensino e pesquisa e o setor privado. Pelo contrário, há espaço para todas as formas de iniciativas que acelerem a pesquisa e desenvolvimento no país. Afinal, ainda sofremos um enorme atraso na área. A grande lição que a Embrapa nos deixa é a capacidade de conexão entre as duas extremidades: universidades e companhias privadas. A partir desta compreensão mútua, torna-se possível criar uma linguagem comum entre as partes. Em outras palavras, torna-se possível alcançar a inovação. Portanto, é hora de estendermos esta expertise acumulada pela Embrapa a outros setores. Tal modelo também já foi adotado por outras nações. Apenas para citar: a Alemanha, com os Institutos Fraunhofer; e a Finlândia, com seus Institutos de Pesquisa Tecnológicas, conhecidos pela sigla “VTT”. Ambos os países figuram como potências internacionais em inovação.
No Brasil, os elementos também estão disponíveis, basta reuni-los. Na Saúde, por exemplo,o governo federal unificou recentemente as políticas de fomento ao desenvolvimento tecnológico em um mesmo programa: o Programa Industrial da Saúde. Somado a isto, temos uma instituição centenária dedicada à área e referência internacional em pesquisa científica e tecnológica: a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), com sede no Rio de Janeiro e centros regionais em alguns estados.
Ora, por que então não oferecemos os meios jurídicos, institucionais e financeiros necessários para transformá-la em uma Empresa de Pesquisa Tecnológica em Saúde? A competência científica e tecnológica da Fiocruz é notória, as conquistas atuais na área de fármacos e biotecnologias a transformamem uma instituição ímpar de projeção internacional, mas lhe falta a agilidade que só uma empresa pública de pesquisa pode ter. Este seria o suporte ideal às empresas brasileiras produtoras de insumos para a saúde que, embora tenham crescido significativamente nos últimos anos, ainda carecem de suporte institucional para a inovação. Especialmente, porque atuam em um setor onde os investimentos internacionais em pesquisa e desenvolvimento movimentam bilhões de dólares.
Os caminhos para esta reunião podem ser menos complicados do que parecem. Sob o novo formato de gestão, a Fiocruz poderia inaugurar uma unidade descentralizada, evitando a ruptura entre a sólida experiência acadêmica de suas atuais unidades fixadas em algumas universidades federais e a expansão de sua atuação.
Temos nas mãos a chance de consolidar um verdadeiro cluster tecnológico-industrial no país. Temos a oportunidade de ganhar autonomia em nossa política industrial para a saúde e assumir a responsabilidade de construir nossa Empresa Brasileira de Pesquisa Tecnológica e Industrial em Saúde. Este seria o primeiro passo para substituir o título de indústria de incremento para indústria de vanguarda. A população brasileira será a maior beneficiada.
* Presidente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo)
Fonte: Gazeta Mercantil, 4/5/09