‘É incompetência não mostrar a realidade’

O Globo – 02/03/2012

Prefeito do Rio critica Ministério da Saúde; secretário de Saúde do estado diz “não ver serventia para os indicadores”

“Poucas vezes na vida vi irresponsabilidade tão grande cometida por um órgão federal”, diz Eduardo Paes, prefeito do Rio, cidade classificada pelo Ministério da Saúde como a pior entre os principais municípios do país, com nota 4,33, em pesquisa com dados de 2008, 2009 e 2010.

– Desafio o ministro Alexandre Padilha a mostrar os dados de 2011 e 2012. O ministério, que não investe no Rio, podia produzir uma pesquisa atualizada. Para mim, essa pesquisa é falta do que fazer, como não tem investimento em Saúde, o ministério quis criar notícia. É incompetência não traduzir dados dos últimos 14 meses, não mostrar a realidade – diz Paes, lembrando que a prefeitura investe 25% do orçamento em Saúde. – Então, não admito ter números passados. Já desisti de esperar dinheiro, e a prefeitura do Rio hoje nem precisa. Então, eles poderiam pelo menos investir na Baixada, porque isso já ajudava

Segundo o prefeito, o fato de Padilha ter dito que que a “avaliação que tem que ser vista e assumida pelas três esferas de governo” é para “enganar trouxa”:

– Culpa coletiva é para enganar trouxa. Eu respondo pelo Rio, ele responde pela Saúde do Brasil. Mostrar como era há anos mostra incompetência e descontrole total da Saúde no país.

Secretário de Saúde do Rio, Hans Dohmann diz que a pesquisa reflete o que já sabiam, “que o Rio tem a pior estrutura do SUS”:

– Esse diagnóstico mostra que a atenção básica, que hoje é a prioridade do governo, estava abandonada nas últimas décadas. O Programa Saúde da Família (PSF) tinha 3,5% de cobertura e agora atinge 30%. Infelizmente, o ministério não trabalhou com os números de 2011.

Para Sérgio Côrtes, secretário de Estado de Saúde, o Rio ter a 3 pior colocação, com nota 4,58, entre os estados, pode ser visto de várias maneiras:

– As notas da atenção básica são as catalisadoras, e a pesquisa pega mandatos pela metade. O ministério trabalhou só com os dados do cadastro ou foi às ruas? Não vejo serventia para os indicadores. Nunca neguei que temos problemas, mas pergunto: o que o ministério vai propor? Colocará mais recursos?

Subsecretário de Saúde de São Gonçalo, Dimas Gadelha, diz, em nota, que “é importante destacar que, em função da diversidade dos territórios do país, não seria adequado realizar uma classificação que apenas posicionasse, em ordem crescente ou decrescente, os municípios”. Além disso, reconhece que “apesar da considerável expansão da rede, ainda observamos dificuldade de acesso, principalmente na média e alta complexidade”.

Secretária de Saúde de Niterói, Gisela Motta lembra que 50% da população tem plano de saúde, e que a cobertura do programa médico de família atingiu 29% dos habitantes em 2010:

– Isso é mais da metade dos que dependem do SUS, são 139 mil. Faltavam médicos, mas contratamos. Existem situações pontuais, mas fico entristecida. Pagamos pelo que é das três esferas do governo, já que a média e alta complexidade não são de nossa total responsabilidade.